segunda-feira, 14 de maio de 2012

Cada um com seu cada qual


O senador Fernando Collor de Melo, mais do que o deputado Francisco Everardo Oliveira Silva (o tiririca), deveria se achar um estranho no ninho, mais do que o deputado e ex-comediante tiririca, já que fazer parte da comissão de educação da câmara dos deputados não deve ser um papel tão ruim para uma pessoa com grandes dificuldades de leitura e escrita, como é o caso do deputado que no inicio do mandato foi inquirido para verificação se dominava escrita e leitura.

Dadas as dificuldades do MEC em gerir procedimentos como o ENEM e outras peripécias não muito louváveis, talvez a presença de tiririca na comissão de educação faça alguma diferença crítica. Mas no caso de Collor, o papel que ele tomou para si é bem mais esdrúxulo que um analfabeto funcional na comissão de educação, até por que as deficiências de tiririca se resolvem com aulas particulares do abecedário, já as culpas de Collor, talvez sejam caso de absolvição divina.

Ao perder o mandato de presidente da República e os direitos políticos há 20 anos, depois de uma conturbada e ampla investigação no congresso. Collor esperou no limbo, aparecendo em programas de futilidades, falando de como a vida é bela (sem a casa da Dinda), e subitamente em 2010 amealhou um mandato de senador pelo estado de Alagoas, que parece ter tudo; menos memória.

Memória também parece não ter Collor já que atualmente investido no papel de tarefeiro dos interesses dos petistas mais fundamentalistas que um dia foram seus carrascos mais implacáveis.  Mas o que se surge é um Collor reencarnado, com pose e arrotos de moral e bons costumes. O arauto da moralidade em pessoa e alma (ainda restará alguma?).

Poderia eu expressar alguma indulgencia sobre um homem que teve depositada toda a confiança de uma nação e que por um átimo tirou tudo de cada um dos mais pobres? Por que eu teria esta indulgencia, esta contrição forçada só por que nosso ex-presidente costurou junto com uma equipe econômica venusiana o confisco da poupança de cada um dos reticentes brasileiros durante seu curto período no planalto.

Mesmo com a pena cumprida, ainda não consigo deglutir as ações deste moço, mesmo que os anos tenham passado, mesmo que tenham devolvido a minha e as muitas poupanças em 18 sofridos meses, nem mesmo pelos amigos que vi entrarem em decadência e alguns até mais radicais, ou deram golpe no seguro ou colocaram mesmo a azeitona na testa, por causa das brincadeiras de Collor.

O ex-presidente faria um papel mais crível no ostracismo, da de politico que pagou por seus erros e foi escrever livros do tipo Barbara, Bianca ou Sabrina. Mas nada disso é crível, já que Collor conseguiu na justiça a única coisa que mais lhe interessava para os seus planos futuros: a isenção de culpa. Já que de todos os crimes de que foi acusado, a justiça lhe deu esterilidade processual, pois nenhum dos processos contra ele prosperou. Mas no final de tudo no tribunal de nossa consciência ainda pesam sobre o pesado mea culpa.

Mas revestido do manto da moralidade e idoneidade, vemos um Collor com o poder de investigar pessoas dentro da CPI do Cachoeira. O mesmo sujeito que quando presidente da República tinha um esquema de arrecadação de propinas comandado por PC Farias que foi unha e cutícula desde os tempos da tesouraria da campanha presidencial. O mesmo PC que gerenciou uma rede de doleiros, contas-fantasma e laranjas, que abasteciam com extorsão de empresas, cobrindo até mesmo as despesas pessoais e o modo de vida nababesco de Collor na casa da Dinda. Antes caçador de marajás, depois o próprio soba.

O estilo colorido de ser se arraigou pelo congresso. Deputados se orgulhavam de pertencer à Nova República das Bananas de Alagoas e marchavam armados (literalmente!) com Collor rumo a um novo Brasil que só existia nas cabeças de Kandir, Magri e Zélia que fazem muito bem em se manter na ostra pela eternidade em que estão.

Esses arroubos de moralidade, justaposta e anacrônica ainda reverberam na minha perturbada cabeça, assim como as palavras de Pedro Collor ao desabar o esquema do mano presidente e de uma Elba (antes eram carros da Fiat, agora são eletrodomésticos) suspeita.

Ou até mesmo a lembrança mais pungente ao assistir a votação sobre a cassar ou não cassar Collor. De todos os 503 deputados da época, meu cérebro só consegue lembrar-se de um único parlamentar, que com corpo avantajado e voz de barítono, tecia loas, como um nazista na forca, ao defender e elogiar até o fim a justificativa de seu voto contra cassar Collor. O atual presidente do PTB e denunciador do mensalão após ser excluído do propinoduto: Roberto Jefferson.

A concha é grande tem espaço para muitos...

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