terça-feira, 15 de maio de 2012

Navalha na carne dos juros


Na cabeça de Bertolt Brecht a Ópera de Três Vinténs ambientada no Soho, um bairro que abriga a boemia de Londres, contando a história do carismático anti-herói Macheath, apelidado de Mac Navalha. Cercado de mendigos, ladrões e prostitutas, Mac Navalha, um estereótipo de Don Juan do submundo, miscigena o amante, o cavalheiro e o ladrão. A trama que poderia ser uma comédia situacional é um grande celeiro onde são desveladas as verdadeiras relações sociais, políticas e financeiras contidas nessa história de amor ordinária.

Mas não foi para fazer uma crítica literária sobre Brecht que dispensa tais catarses, mas sim sobre uma fala do personagem que me remete a corroborar o pensamento de Maílson da Nóbrega sobre as ações dos bancos em detrimento à falácia governista de bancar o indulgente e fazer a usura desaparecer.

Mas (...) o que é roubar um banco comparado a abrir um banco?

Assim já dizia o anti-herói de Brecht. Colocando abertamente o poder usurário das casas bancárias contrariando até a bíblia, que o condena. Mas os bancos serão mesmo os Mac Navalhas da história do brasileiro ou simplesmente apenas demonizamos o lado errado da moeda?

Afinal é unanime se falar mal de governos, sogras e bancos. Pois o pensamento institucional é de que um banco será sempre uma porta de vidro com moças sorridentes e rapazes engravatados onde você entra e pega dinheiro emprestado dando como garantia a sua alma e a certeza de que você não precisa do dinheiro.

Desde que o ser humano descobriu que se pode intermediar valores auferindo lucro por isso, os bancos já tem esta imagem comprometida perante o publico. Os serviços de intermediação financeira ainda são muito pouco entendidos pela população e considerados caros demais até pelos abastados da vida.

Eu até compreendo que a presidente Dilma queira ser a mãezona de muitos PACs e outros feitos heroicos dentre eles a luta colossal contra os juros bancários. O discurso populista de Dilma no dia do trabalhador encheu de lágrimas qualquer um que tenha um carnê com no máximo 80 folhas impressas por códigos de barras e valores a pagar a diminuir o volume ao longo dos anos. A presidente ao dizer que não crê que um sistema bancário dos mais sólidos e lucrativos, continue com juros tão altos.

Talvez a presidente nunca tenha atrasado uma fatura do seu cartão de crédito e sentido o peso da mão dos juros draconianos praticados pelas administradoras em função do risco cliente-inadimplência. Ou que jamais tenha precisado recorrer a um empréstimo sem garantias alienáveis.

Realmente os juros em países da Europa são menos exorbitantes do que no Brasil, mas temos que convir que a politica fazendária nestes países fez as coisas chegarem no estagio em que estão atualmente; uma Europa em crise de riscos de quebra não de bancos, mas de nações inteiras.

Talvez o processo de demonização dos bancos brasileiros seja menos avassalador do que reza a lenda, de que banqueiro faz de nossas vidas o que Mefistófeles pretendia com doutor Fausto. Talvez não haja só uma perversidade das instituições e concupiscência dos donos de bancos. Mas também existam as maiores expressões de vilania e  sejam as tributações das transações financeiras e o volume de recursos que os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central. Em ambos os casos não há comparativo existente ao brasileiro em nenhum canto do mundo.

Talvez a politica futura, bem futura se depender da boa vontade de governo e banqueiros. O cadastro positivo, que seria uma espécie de premiação para o bom pagador. Que hoje paga a conta dos juros junto com o risco do inadimplente. Seja beneficiado com juros mais baixos, condizentes com a sua condição de honra contratual. Mas estes são mecanismos que dependem de muita vontade multilateral dos envolvidos. Coisa que a presidente parece ainda não compreender: O mercado financeiro sofre interferências sim, mas jamais aceita a coleira e amansa diante de uma canetada presidencial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...