Num
documento em que prega a necessidade de produzir uma narrativa histórica
própria sobre os dez anos em que comanda o governo federal, o PT se diz vítima
de uma campanha de desmoralização e compara o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva a Getúlio Vargas e João Goulart.
Chamado de "carta convocatória" para seu quinto
congresso nacional que é o fórum máximo para decisões sobre o rumo do partido,
o texto é assinado pela direção do PT e aponta temas que deverão ser debatidos.
Na carta, o PT afirma que Vargas e Goulart foram vítimas de uma
"insidiosa campanha de forças políticas" que visavam desestabilizar
seus governos, mesmo processo que estaria sendo orquestrado, desde 2003, para
desconstruir a era Lula.
O presidente Vargas se suicidou em 1954. Em sua carta-testamento,
tratou o gesto como uma resposta a "forças e interesses contra o
povo". Jango foi deposto em 1964, o que deu início à ditadura militar no
país.
"A partir de 2003, de forma intermitente, tratou-se de anular
os notórios êxitos do governo, com campanhas que procuravam ou desconstruir as
realizações do governo Lula ou rotula-lo de 'incapaz' e 'corrupto'", diz o
documento petista.
"Sabe-se
que denúncias de corrupção sempre foram utilizadas pelos conservadores no
Brasil para desestabilizar governos populares, como os já citados casos de
Vargas e Goulart", conclui.
O texto não cita o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal
Federal, que condenou ex-dirigentes e homens fortes do PT pela compra de apoio
político no Congresso Nacional.
No entanto, deixa implícita uma menção ao caso ao afirmar que
"grandes episódios de corrupção" dos governos Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002) e Fernando Collor (1990-1992) "nunca mereceram
investigação que levasse seus responsáveis à punição pela Justiça".
O congresso do PT está marcado para fevereiro do ano que vem, mas
antes a sigla realiza eleições internas. Em 2014, acontece a eleição
presidencial que definirá a sucessão de Dilma Rousseff.
O texto de convocação ataca a mídia e "grupos incrustados em
setores do aparelho de Estado" como substitutos dos partidos da oposição
em uma suposta tentativa de desqualificar o PT.
Diz ainda
que o partido precisa "construir" uma "narrativa" própria
sobre os últimos dez anos.
"O PT não foi capaz, até agora, de construir plenamente uma
narrativa sobre o período histórico que se iniciou em 2003. [...] A ausência de
um balanço aprofundado de nossa experiência de governo e de nossa presença na
sociedade dificulta a construção e a continuidade do nosso projeto
político", justifica a sigla no documento.
A carta petista contém algumas autocríticas. Afirma que o partido
deixou de lado o debate interno e que perdeu a capacidade de mobilização sobre
setores que tradicionalmente o apoiam.
"O debate interno está rarefeito. Sofremos um processo de
burocratização e assistimos a um debilitamento de nossas instâncias coletivas
de direção", afirma.
O texto diz ainda que é preciso atualizar a agenda estratégica
petista e empreender um esforço para decifrar os anseios de "novas
classes" sob pena de o partido não ser reconhecido por eles como seu
principal benfeitor.
Além disso, a convocação fala que é preciso formular uma proposta
para acelerar o crescimento econômico e prega o desenvolvimento de uma
estratégia para promover a "internacionalização do PT" como
representante de um novo ideário socialista.
Em suma;
a auréola e a as asinhas brancas estão adornando o primeiro santo genuinamente
brasileiro, mesmo que seja do pau oco.
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