Seu Pedro, português não! Natural de Funchal não é portuga é Madeirense, D. Pedro tinha uma quitanda na Augusto Montenegro, (o que prova que ele não era mesmo luso) e era fã de Camões e Eça, mas não conseguia se quer escrever uma carta sem ajuda.
Pronto, vou dizê-lo: sou um sujeito de meia-idade. Diz que é nesta altura da vida que um homem entra numa espécie de crise existencial. Já tem passado e aparentemente ainda lhe resta algum futuro. No meu caso a situação é “ligeiramente” diferente: não sei para que me serve o passado nem sei o que hei de fazer com o futuro. Vender legumes, batedeiras, apontar jogo do bicho ou gasolina batizada para os incautos desesperados não é propriamente algo que nos eleve à academia de artes e letras sequer do Burundi. E porque é que um tipo que se dedicou ao nobre oficio de comerciante haveria de querer ser reconhecido como um intelectual de elevadíssima estirpe? Porque era isso que eu queria.
Está claro está que me esqueci de escrever uns romances, uns livros de poemas. Também não entrei em nenhuma peça ou sequer constei como figurante em nenhum filme de terceira categoria. Não escrevi nenhuma teoria política nem fiz nenhuma observação particularmente genial sobre o significado democrático do consumo de querosene num vôo de Caracas para Lisboa.
E é aqui que entra o âmago da história da meia-idade e se demonstra que a verdade verdadeira sobre esta idade estúpida é afinal que existe uma amostra de passado, mas não há nenhuma espécie de futuro. Um cidadão tenta escrever um post (já não é nada mau) sobre a qualidade da democracia em Fornos de Marabá e aparece logo um irônico comentador: “Ei vovô, tu sabes é vender água sanitária caseira (muito boa e muito em conta, por sinal). Deixa-te de merdas”. Ou então, mandar uma reflexão brilhante sobre o fim do apoio à criação de lagartas para adubo a um qualquer jornal. Primeira pergunta: “então e que outras coisas escreveu?” “Bom, escrever, escrever, só as etiquetas de preço da seção de corte na feira nova do Barreiro, serve como CV?”
A um homem de meia-idade resta-lhe apenas uma ambição: ir vivendo. Pensando bem, podia ser pior.
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