quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A ponte de todas as discórdias

Durante a II guerra, não pelo menos o sangue de 35 mil mortos escorreu pelas calçadas de pedra de Dresden. Em um dos momentos mais contraditórios da guerra, a cidade foi bombardeada por dois dias seguidos, destruindo praticamente todo o patrimônio urbano, incluindo a igreja de Frauenkirche, deixando Dresden como símbolo de selvageria humana.

O tempo passou e Dresden foi reconstruída, figurou até como patrimônio cultural da humanidade, mas perdeu esse título graças a uma ponte que foi construída sobre o rio Elba, que segundo a UNESCO fez com que a cidade perdesse o titulo ostentado. Apesar de ser uma obra de importância urbanística e logística a perda do título trouxe sérias consequências financeiras, que além de perder turistas, Dresden deixou de receber a verba alusiva ao programa de apoio aos patrimônios mundiais, um dote de 150 milhões de euros.

Aqui pela linha do Equador, também temos uma ponte senão de objetivo questionável, um tanto esperançoso para um lado, mas visto como uma cárie pelo outro. Uma ponte que liga o município de Oiapoque no Amapá a Saint George na Guiana Francesa foi construída com muitos atrasos no cronograma e mesmo com a má vontade dos franceses, enfim saiu.

Mesmo com o lado brasileiro ainda em estado de obras inacabadas, sendo que a pavimentação de acesso à ponte não foi nem começada e nem tem previsão, mesmo com as diversas vindas de Lula ao Amapá e a comentar até jocosamente sobre o assunto, dizendo que o número de viagens e pessoas que já vieram discutir o assunto, daria em dinheiro o suficiente para construir outra ponte.

Do outro lado da fronteira a imagem é outra. Afinal mesmo com a má vontade declarada de Sarkozy em fazer tal empreendimento, as obras complementares e de apoio ao acesso à ponte estão concluídas, sinalizadas, com guaritas para guarda de fronteira, estacionamentos, postos de alfandega e etc.

Quando finalmente houver a inauguração, a população acredita na ilusão de que as portas da Europa equatorial se abrirão e a população amapaense terá livre aceso aos garimpos guianenses e aos fartos euros e programas de manutenção familiar providos pelo governo de Paris.

Iludidos pela expectativa de emprego promissor, os trabalhadores residentes na região sonham com o corte da fita, inaugurando o fim da pobreza proliferante no norte do Amapá, mas além dos munícipes de Oiapoque, uma vasta carreata novos amapaenses oriundos do Maranhão na sua maioria, lotam a cidade de Oiapoque, esperando as portas ou a ponte da salvação se abrirem para eles, não só sobrecarregando o sistema de saúde já tão fragilizado e a segurança quase inexistente.

Morei muitos anos nos arredores de Paris, estada o suficiente para saber como trabalha a policia de imigração francesa, no ato de coibir veementemente a presença de ilegais, volta e meia tinha que me habituar a andar com passaporte no bolso do casaco para mostrar o Visa quando fosse pedido.

As portas sim se abrirão, mas do Brasil do calor, do Brasil da amizade, das nossas paisagens exuberantes e das mulheres que se oferecem indiscriminadamente em Oiapoque, de preferencia aos franceses, que de nós buscam prazer, mas a nós só deixam a vontade semelhante a de cachorros, a olhar as assadeiras de frango nas ruas, protegidas pelo rigor do vidro que além de sólido é extremamente quente.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...