terça-feira, 18 de outubro de 2011

Amapá, terra fértil em fraudes com dinheiro público

As terras amazônicas por natureza quase nada se prestam ao plantio, mas no Amapá, as terras são férteis para o plantio de verdinhas, azulzinhas, amarelinhas e toda a sorte de espólio que possa ser feito pela gatunagem de plantão existente no poder público que anda infestado por todos os lados.

As operações, algumas entre as mais impactantes da polícia, resultaram na prisão de um número recorde de pessoas. Nos últimos oito anos, foram detidos 308 políticos, servidores públicos e empresários acusados de fraudes com dinheiro repassado pelo governo federal. Os dados foram compilados por dirigentes do PSOL local. A última incursão da polícia em nichos de corrupção no estado aconteceu há menos de um ano. Cerca de 75% da economia do Amapá gira em torno de verbas públicas.

Deflagrada uma semana antes do primeiro turno das eleições, a Operação Mãos Limpas resultou na prisão do governador Pedro Paulo (PP), em pleno exercício do cargo; do ex-governador Waldez Goes (PDT) e do presidente da Assembléia Legislativa, Jorge Amajás (PSDB), entre outros influentes políticos da região. O ex-governador João Capiberibe (PSB) também teve o mandato de senador cassado em 2005 depois de ser acusado de compra de votos.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) diz que o alto grau de corrupção dos poderes públicos não é uma exclusividade do Amapá, mas reconhece que no estado o problema, de fato, é grave. Historiador por formação profissional, Rodrigues argumenta que desvios de conduta têm origem nas elites que se apoderam do estado ao longo de sua formação. O isolamento geográfico também teria ajudado a reforçar a sensação de que ninguém seria punido por mais tosco que fossem os crimes.

- Criou-se aqui uma cultura muito forte de se misturar o público com o privado, e muitos se valem da impunidade em torno disso - afirmou o senador.

Um dos primeiros políticos atingidos numa investigação por corrupção foi o ex-prefeito de Macapá João Henrique Pimentel. Ele era do PT na época e agora está no PR. Pimentel foi um dos presos na Operação Pororoca, em 2004. Entre os detidos estava o secretário de Saúde. Desde então, outros dois secretários de Saúde foram detidos e nem assim a sangria aos cofres públicos foi estancada. Até hoje as obras do Hospital Metropolitano, iniciadas em 2001 e de crucial importância para a população mais pobre, não foram concluídas.

O estado também sofre com obras inacabadas em estradas e portos, entre outras áreas. Macapá tem 450 mil habitantes, mas não dispõe de banda larga. A telefonia celular local funciona de forma precária. A promessa do governo é instalar a banda larga a partir de 2012. Mas moradores locais vêem o programa com desconfiança.

Para o procurador da República Celso Leal, a corrupção no Amapá pode estar relacionada ao volume de verbas federais que abastece o estado. Ex-território, até hoje o Amapá sobrevive de investimentos públicos. Leal é um dos responsáveis pela prisão de 36 pessoas na Operação Voucher.

- O estado é muito dependente do governo federal. Talvez isso contribua (para corrupção) por ser um dinheiro fácil - disse o procurador.

Vai entender...

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