quinta-feira, 1 de março de 2012

Mea Culpa, fui Governador do Amapá

O Estado do Amapá se orgulha de ter dentro se teu território, o maior índice de conservação da Floresta Amazônica. Este título ostentado é de grande valia para os fins ambientais e para a ecologia do Estado. Talvez a exploração deste título seja sobremaneira pouco utilizada, já que não temos avançado em politicas de desenvolvimento do setor primário devido a velhas feridas ainda latentes como o desastroso PDSA que fez com que o Estado ficasse na idade média em relação a outros estados-irmãos da Amazônia. E também não se tem ideia de explorar estes recursos de conservação ambiental da maneira de abertura para o turismo e a pesquisa.

Seguindo a segunda linha, nosso ganho científico seria inestimável, fazendo que a estação da Antártida, perdida recentemente representasse apenas um fio nas linhas de conhecimento científico em substâncias originais de espécies isoladas. Mas para isso teria-se que ter muito mais do que simplesmente a visita dos físicos circenses da USP para animar a população no teatro ou uma feira de tecnologia onde simplesmente a banda ainda é curta e a tecnologia se recusa a chegar, mesmo estando em fase de produção contínua na vizinha Manaus.

No veio ecológico teríamos que pensar em convênios de cooperação científica com as principais instituições da própria Amazônia, como o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), o Museu Emílio Goeldi e das Universidades Federais do Amazonas e Pará, já que as dos outros Estados Amazônidas ainda estão engatinhando como a Unifap. Cientistas que vivem o dia-a-dia da floresta e conhecem como poucos a intrincada rede de relações desse fascinante universo natural. Para traçar um retrato deste torrão amapaense da Amazônia desde as origens de sua história natural e humana até a ocupação atual, incluindo seus tesouros e o futuro do maior bioma do país. Que rico em patrimônio incomparável em recursos naturais, numa região que ocupa 60% do território brasileiro. Descobrindo a potencialidade de plantas com o uso medicinal e variedade de essências capaz de transformar a indústria da perfumaria, sem falar de frutas exóticas e recursos estratégicos em minerais e petróleo.

Mas concomitante com esta rede de descobertas, que são muito mais do que simplesmente fornecer tinturas e colutórios está o desenvolvimento do setor primário, algo tão combatido na década de 90, pelo governo estadual, como se fosse a disseminação da peste bubônica. Mas basta lembrar que em um passado não muito distante, estas ideias retrógradas de conservação sem propósito. O mundo continuava girando e entre 1960 e 1970, a agricultura brasileira passou por uma intensa transformação no processo que ficou conhecido como Modernização ou Revolução Verde. Este consistiu na incorporação à agricultura por meio do apoio estatal, de práticas industrializadas de produção integrando ainda mais a agricultura com o sistema urbano.

Isso tudo em pleno mandato dos generais acéfalos que detratavam o processo democrático. Mas em pleno governo legalmente constituído pelo poder inegável do voto popular, as relações foram totalmente adversas, fazendo com que o Estado fosse condenado ao extrativismo, que incentiva a retirada predatória de suas riquezas, pois na falta de politicas sérias de desenvolvimento, o que ainda ocorre até a atualidade, o Amapá continua tendo suas riquezas escoadas por seus caminhos diversos, sem deixar nada mais do que enormes crateras não só no solo, mas também na copa da floresta.

Enquanto dormia-se em berço esplendido, achando-se estar tomando os caminhos e as decisões certas para uma visão completamente incipiente e por que não dizer, atrasada do que seria uma realidade de desenvolvimento, pensou-se um Estado por um ou dois mandatos e não um Estado para um longo prazo. E no resto do país a agricultura foi forçada transferir renda e estimular o desenvolvimento dos centros urbanos e industriais do país através da instalação de polos produtores de matérias-primas com preços mais competitivos devido a logística menos dispendiosa e a geração de postos de trabalho. O que forçosamente trás consigo a necessidade da formação técnica para o desenvolvimento.

Neste interim perdemos a oportunidade de aumentar nossa parca participação no PIB acompanhando a extensiva demanda de commodities agrícolas e com isso gerando mais e mais pontos de desenvolvimento que conduzido sabiamente pela mão do gestor do Estado à época faria um quadro totalmente diferenciado, desatrelando a economia de contracheque de veículo impulsionante da economia a um mero vagão coadjuvante.

Atualmente já se fala em sustentabilidade no resto do país, enquanto Amapá ainda pensa no que fazer para se sustentar. E justamente nas mãos da prole que um dia negou a este Estado a chance de se desenvolver junto com os outros da federação, que na época eram semelhantes e agora expõem sua grandeza enquanto os mesmos cérebros limítrofes remoem picuinhas e se lambuzam em um poder efêmero que não deve tardar a se consumir, até mesmo antes das vacas premonitórias de José do Egito chegarem a magreza extrema junto com a população que se consome em ilusões...

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