segunda-feira, 12 de março de 2012

O ultimo Marques de Macapá

Desde os tempos medievais, a nobreza sempre encantou pelo seu brilho, pelas roupas bufantes, pelas ostentações das joias nas cabeças coroadas e com o título carimbado pelo brasão da genealogia das famílias brindadas pelo rei.

A literatura não nos deixa mentir pelos personagens que incorporaram a nobreza virginal do "sangue azul" pulsante nas veias desde os sofríveis contos do Marquês de Sade, passando por Monteiro Lobato que nos presenteou com o hilário Marquês de Rabicó.

Das luxuriantes noites que a Marquesa de Santos proporcionou ao nosso Pedro imperial. Ou dos folguedos lembrados eternamente pelo Marquês de Sapucaí, que brindou o Rio de Janeiro com uma de suas avenidas mais famosas. E das lutas do revolucionário Marquês de Tamandaré que junto com outros heróis do nosso bravo exército nos trouxe gloriosas vitórias.

Não só o poderoso Marquês de Pombal, que reinou absoluto no Brasil manuelino, com dedos também em nosso Amapá. Mas também todos os outros nobres marqueses que abrilhantaram a vida do mundo e do povo. O título de Marquês deriva da época em que Carlos Magno com magnitude de seu império, demarcou seus limites com “marcas” e deu aos Margraves o direito de regulamentar estas fronteiras marcadas. Os Margraves deram origem aos Marqueses ou “ricos homens”.

Eis então que hoje nosso ultimo Marquês nos deixa. Caminhando para os pavimentos superiores, rumando ao Oriente Eterno. Meu amigo e compadre Bonfim Salgado, foi se encontrar com nosso Grande Arquiteto de todas as cousas, grandes ou pequenas.

Vigilante “homem rico”, mas em sabedoria, esta que vale mais do que ouro. Nosso Marquês foi vigilante nas fronteiras da imprensa escrita por mais de quatro décadas. Guardião soberano de um conhecimento crítico e prático. Comedido e sensato, mas enérgico e enfático. Um Cérbero vigilante às portas do mundo subterrâneo da imprensa, que guarda entre a moral e a ética os portões para que a imperícia na arte de malhar o metal da notícia não se prostituísse ao vil metal real.

Eis meu amigo, Marquês de Bonfá, cidadão brasileiro, apaixonado pela família e pelo Amapá. E pelos netos, que na verdade ele considerava sua grande riqueza, pois a eles nunca negava uma bala ou guloseima.

Um apaixonado pelas notas de Duke Ellington e Charlie “The Bird” Parker, valseava pelas notas do Jazz. Apreciador da fina flor da cultura era um homem forte. Forte o bastante para negar a dor e se firmar na imponência de sua altura.

Eis meu amigo e compadre, Marques de Bonfá. Um dia me prometestes que te farias Senador. Mas bem sei que jamais no alto da tua vaidade deixarias o título de nobreza com o qual te laureamos, mesmo que não hereditário, para ser apenas um edil temporário.

Vai amigo, vai. Deixa-me tua cadeira vazia em nossa mesa de trabalho que agora jaz na escuridão de nossa sala, nos teus papéis a tua inteligível escrita que somente eu e os velhos escribas hieráticos conseguíamos decifrar. 

Vai Marquês, vai. Assenta caminho com a pedra angular pois quero novidades jornalísticas fresquinhas quando me chegar à hora do juízo ao também cruzar o oriente eterno...

Um comentário:

  1. Belissimo texto, linda homenagem a altura do nobre amigo Bonfim que vai deixar saudades infinitas.

    Renata Sampaio

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