segunda-feira, 19 de julho de 2010

Caminhos que do inferno levam à redenção


Os primeiros habitantes do sul da África, o povo San, acreditavam que depois da morte o espírito humano se defrontava com quatro caminhos. Três dos quatro caminhos eram magníficas estradas, com chão liso, sombrejadas por árvores altas e viçosas, mas que levavam ao inferno. E uma estrada calcinada, de pedregulhos soltos levava ao paraíso.

O espírito precisava escolher, e sua escolha não era entre céu e inferno, era entre o caminho e o destino. Andar por uma das três estradas largas e prazerosas engrandeceria o espírito, traria a sensação de prazer e bem estar, mesmo que o levasse a perdição. Escolher o caminho mais difícil castigaria o espírito, mas o levaria a salvação.

O que era uma opção para os mortos era um enigma para os vivos: vale mais a viagem ou seu fim? O que se aproveita da vida se ela for apenas uma provação da alma?

Fiquei sabendo sobre o povo San durante a copa da África, onde no Museu das Origens da Universidade de Witwatersrand em Johannesburg ser guardam resquícios de uma cultura muito antiga.

Nesse ponto o sucesso tem paridade com a filosofia da morte para os San. Atualmente, mais de um terço das pessoas acha que o sucesso é fazer aquilo que se gosta, um quinto das pessoas acha que sucesso está não equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, e menos de um quinto das pessoas acham que o sucesso reside na realização e no reconhecimento. Mas o espantoso é que um vigésimo das pessoas acha que o sucesso está na realização financeira. (Dados: Gdimen 2010).

Em contraponto a filosofia da morte segundo o povo San, o ser humano vem utilizando mais tempo indo buscar o conforto futuro para suas mazelas ao invés de tentar confortá-las agora. Essa pesquisa do Gdimen foi feita com milhares de pessoas para avaliar a concepção do sucesso.
Acredito agora que os que acham que dinheiro é tudo e nada mais importa, são uma parcela quase que irrisória da existência humana. Monomíticos, senão jurássicos, esses oportunistas não vêem um palmo adiante do nariz que não seja um cifrão. Às vezes os vejo como os personagens João Romão e Libório, do romance “O Cortiço” de Aluisio Azevedo.

Muitos como vimos tem buscado mesmo fazer o que gostam e o retorno que isso lhe trará é por conta dos seus feitos e uma conseqüência de seus atos e não uma meta de vida.

Sábio o povo San, em delimitar as escolhas em vida e em morte entre o inferno que leva a redenção (Dante, A.) ou o prazer que leva ao inferno (Milton, J.). Alea jacta est, e a sorte esta lançada, jogue seus dados e decida-se, a filosofia dos San pode se revelar uma verdade tardia para uma vida despreparada.


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