quarta-feira, 21 de julho de 2010

Hable con ella

Cucurrucucú Paloma. É assim que o filho de dona Canô começa uma ode ao filme de Almodóvar.


No seu primeiro filme do novo milênio, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar nos traz uma nova obra sobre relacionamentos entre homens e mulheres, vistos principalmente do ângulo feminino. Porém, a diferença aqui é que as mulheres que protagonizam Fale com Ela estão em estado de coma, na cama de um hospital. O último filme do diretor, Tudo Sobre Minha Mãe – referência ao clássico A Malvada (Tudo Sobre Eva, no original em inglês) – foi homenageado com inúmeros prêmios ao redor do mundo, incluindo aí um Oscar de melhor filme estrangeiro. O tema central permanece – relacionamentos – porém Fale com Ela é um filme totalmente diferente, não em relação ao último do diretor, como também é um dos filmes mais originais do ano.


Temos Benigno e Marco, dois desconhecidos que acabam virando amigos em decorrência do destino: enquanto esperam com toda a esperança possível as mulheres por quem são apaixonados, – Alicia e Lydia – saírem do estado de coma do hospital, acabam tendo uma afinidade muito grande. O interessante disso é que Benigno e Marco, enquanto amigos possuem idéias bastante distintas em se tratando de suas amadas: Benigno possui uma espécie de amor platônico por Alicia, pois apaixonou-se sem ter tido tempo de ser correspondido, antes do acidente dela; Marco, em contrapartida, após o acidente, não consegue definir muito bem seus sentimentos com relação a Lydia, e tem dificuldades de lidar com ela na cama do hospital. Ambos só podem fazer uma coisa enquanto esperam: falar com elas...


Outro ponto interessante é o fato de, embora serem dois homens os protagonistas, o enredo ser centrado nas duas mulheres em coma. Fale com Ela desenvolve sua história através de flashbacks, mostrando as duas mulheres ainda quando fora do hospital. O filme logo avança para um ponto inesperado, e algumas reviravoltas acontecem com os dois homens. Não cabe aqui dizer muito mais, pois isso estragaria um pouco as surpresas, e é muito melhor saborear a história por você mesmo. Mas é apenas importante ressaltar que o roteiro é muito bem desenvolvido, alterando momentos emocionantes (com o uso da música, da qual será falado logo em seguida), com alguns momentos leves e engraçados.

Almodóvar ousa e coloca, inclusive, um filme mudo em preto-e-branco (fictício, é bom dizer) de sete minutos dentro do filme principal, que altera, positivamente, o ritmo do filme. É algo também inesperado e que funciona muito bem, para esquecermos momentaneamente o drama dos personagens principais.


A história é bastante forte, porém Almodóvar tem todo o controle do filme e trata de assuntos como estupro, desejo e morte com a habilidade de um cineasta experiente e, porque não dizer, gênio. Em relação à originalidade citada logo no início, não há como descrevê-la, senão vendo o filme por si mesmo. É uma mistura de fotografia diferenciada (porém sem usar nenhuma técnica nova), com a própria história, as imagens (o filme mostra uma tourada belíssima), tudo em conjunto com a música... ah, a música! O filme ganha ainda mais força com o uso dela.

Destaque aqui para o Brasil, com a participação especial de Caetano Veloso cantando em espanhol uma versão da música Cucurrucucu Paloma, que funciona não só para a platéia como para os personagens do filme, que se emocionam enquanto ouvem. Além disso, há outras referências bem explícitas ao Brasil. Novamente, recomendo a você mesmo assistir para descobrir o que acontece.


Beços a paloma

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