A folia anda solta por todas as esquinas, becos, mangues e cantos. Terça feira gorda, que antecede o fim da folia de Momo, transcende o imaginário popular. Ainda ontem (plena segunda feira de carnaval!) no trabalho, olhava as faces decepcionadas dos meus correligionários, impacientes por serem os únicos seres vivos (apesar de alguns insetos) a estarem trabalhando naquele dia. Com os corredores enormes da Universidade, vazios e seus ocupantes habituais em plena esbórnia momesca, meus pobres assistentes se perguntavam: por quê?
Lá por volta das 16 horas pedi um café, preto e amargo como sempre, e como quem não quer nada a copeira começou o “vai da valsa” querendo saber se trabalharíamos hoje. Além de perguntas amenas, para chegar ao grande filé da dúvida que provavelmente pairava na cabeça de todos da equipe que a nomeou porta-voz das inquietações dos demais.
Aproveitando-se da oportunidade (já que a mesma faz o ladrão), igual a um felino que sempre consegue tudo o que quer; inclusive agradar antes do bote. Ela chegou-se a mim e com a cara parecendo o personagem Gato de Botas do desenho Shrek, percebi o bote e me esquivei com uma pergunta que desarmou qualquer intenção de contenda:
_E então o que você vai fazer na folga do feriado amanhã?
Assim com o susto da pergunta inesperada, ela se desfez em gentilezas e afirmou para mim que tinha a pretensão de ir a igreja. Como no auto dos costumes do seio religioso, supus na hora que fosse evangélica, afinal neste período as igrejas catolicas estão fechadas até a missa das cinzas.
Foi então que me foi disparada a pergunta que motiva o artigo de hoje: _Doutor, por que chamam esse dia de terça-feira gorda? É por causa do rei Momo?
Com a quietude de quem já ouvira perguntas tão semelhantes e como o diletante que sempre se prestou ao acúmulo do conhecimento de almanaque. Parti para o ataque e chutei a gol.
_Dona Silvia, estes períodos são chamados de “gordos”, por que antecedem a quaresma, que por sua vez antecede o período da semana santa. Antes a igreja era intolerante quanto a folias da carne, como era pejorativamente chamada esta manifestação pagã.
Mas com o tempo e pelos costumes, acabou se tornando tolerante e classificando o ato não mais como comemoração pagã de adoração a deuses diversos. Mas com a condição que se guardasse o jejum da quaresma. O que acabou então acontecendo. Cometiam-se os excessos (que perduram até hoje!) como a gula e a lascívia. Sendo que na quarta feira à abertura das portas da igreja para a missa de consagração das cinzas, dever-se-ia voltar ao hábito da fé.
O Carnem levare ou Carne vale; algo como que “adeus à carne” que acabou gerando a corruptela Carnaval, advém deste período onde tudo pode, onde tudo é gordo e o ícone é Momo, mais gordo, melhor. Comer, beber, fornicar e gozar (no sentido geral!).
Enfim como um catedrático que fecha o grande tomo do saber divino, encerrei a lição à copeira e ganhei uma em troca:
_Doutor, pra quem entende tanto de carnaval, acho que o senhor poderia se divertir mais no ano que vem e fazer igual ao diretor antes do senhor. Que a gente só via uma semana depois do carnaval...
Ah, sábios tempos os de Salomão, valei-me Momo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário