terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A arte de fazer tudo parecer bem, enquanto alguém acreditar...

O Estado é laico por natureza. Isso significa ser como a Coca Cola, ou seja, agradar a quase todo mundo, enfrentar seu similar de baixo poder de fogo e não apoiar; religião nem política, mas futebol pode, apesar das divergências.

Mas tênue é a linha que separa as diferentes vertentes do fanatismo. O início de qualquer fanatismo consiste, em primeiro, reconhecermos um sujeito ou um grupo a estarem convictos, quando julgam de posse de uma certeza que recusa o teste da realidade. Nietzsche dizia que "as convicções são piores inimigas da verdade do que as mentiras", porque quem mente sabe que está mentindo, mas quem está convicto não se dá conta do seu engano. 

O convicto sempre pensa que sua mentira é a sabedoria incontestável. Até no campo científico, há cientistas correndo o perigo de tornarem-se convictos de suas teses. Quando algumas ideias se tornam supervalorizadas e adquirem um caráter de grandiosidade e absolutismo, tendem a levar os seus sujeitos a abdicarem de seu raciocínio crítico e se tornarem meros objetos dessas ideias. Indivíduos assim submetidos a tão grandes ideias, fazem qualquer coisa para "salva-las" de um possível furo de morte; elas funcionam como muleta existencial. Isso acontece principalmente no meio religioso, mas também pode ocorrer nos meios; político, filosófico  e científico. 

O segundo sinal do fanatismo é quando alguém quer impor a todos de modo tirânico a "verdade" única extraída de sua inspiração ou crença absoluta. Pretende assim a uniformização via linguagem, através de aparência física, rituais e slogans do tipo: "O único Deus é Alá", "só Cristo salva", "Jesus Cristo é o Senhor", "somos o Bem contra o Mal", ”Somos a mudança ao caos..." São expressões de caráter estereotipado, sustentado por uma "estrutura de alienação do saber”, onde o discurso passa a falar sozinho, é uma resposta que está no gatilho, pronta para qualquer emergência que o sujeito não quer pensar. Observem o caráter tirânico, narcisista e excludente dessas afirmativas.

Todos possuem uma visão que nega outros modos de crer e pensar. O mesmo acontece nos autoelogios das pessoas de raça branca e o desprezo pelas outras como proclamam os fanáticos da extrema direita, nas ações violentas de uma torcida sobre a outra, todos, sinalizam que o indivíduo se rende ao grupo e este "a causa". Os recém convertidos de qualquer seita religiosa ou política estão sempre convictos que, finalmente, contemplam a verdade e essa tem que ser imposta a todos, custe o que custar. O indicativo de fanatismo, já dissemos, é quando uma pessoa passa a colocar uma causa suprema (podendo esta ser justa ou delirante) acima da vida dela e dos outros.

Quando o indivíduo e/ou grupo perdem o bom-senso na lógica da comunicação e nas ações do cotidiano. O discurso passa a ser repetitivo e estranho à vida comum. Indício de fanatismo é quando se perde o sentido de respeito e humanidade para com os diferentes, em nome de uma causa transcendente.
O fanatismo é a intolerância extrema para com os diferentes. Um evangélico fanático é incapaz de diálogo e respeito para com um católico ou um budista. Um fanático de direita não quer diálogo com os de esquerda. Organizações como a Ku Klux Klan são intolerantes igualmente com negros adultos, mulheres e crianças. Por isso se diz que há em cada fanático um fascista camuflado, pronto para emergir em atos de exclusão e eliminação.

O sentimento que no fundo sustenta o fanatismo e o fascismo não é a fé, nem o amor, mas o ódio e a intolerância. O desejo do fanático "autêntico" é dominar o mundo com seu sistema de crença cheio de certeza. No plano psíquico, o lugar do recalque torna-se depósito de ódio e desejo de eliminar todos os que atrapalham o seu ideal de sociedade. Certa dose de paciência doutrinada o faz esperar-agindo para que a "idade de ouro" possa um dia acontecer. 

Alguns personagens "messiânicos" de nosso tempo, como Hitler, Idi Amin, Ronald Reagan, George W. Bush, Ariel Sharon, os grupos dos martírios suicidas do Oriente Médio, entre outros, tem algo em comum: cada um se sente o escolhido para cumprir uma especial missão. 

Hitler discursou que "as lágrimas da guerra preparariam as colheitas do mundo futuro". George W. Bush, na sua ânsia de guerra contra o ditador Sadam. Hussein, não estaria delirando no mesma linha? Não é sem sentido que os EUA, tem sido o solo fértil de seitas cristãs fanáticas. Pelas bandas Tucujús, podemos começar a inferir de que as coisas não são tão diferentes das reflexões sobre a base do fanatismo, quem sabe os pensamentos não sejam semelhantes a Casa dos Filhos de Jeová; uma seita americana que torce para o mundo se acabar logo, porque seus membros acreditam que depois surgirá uma nova civilização do Bem. Vamos torcer para os socialistas estarem errados como em 1917.

Um comentário:

  1. Ei, Charles! É Miguel Gil, do twitter. O texto está muito bem escrito e coerente com o paradigma da pós-modernidade, que é regido pela tentativa de se respeitar o diferente.
    Acredito que o fundamentalismo existe em todos os grupos. E este é o problema, especialmente quando o discurso desses fundamentalistas ganha o refino retórico do "eu estou fazendo por você, é para o seu próprio bem!".
    Agradeço a consideração em indicar-me o texto. Ah! O texto é seu?
    E parabéns pela sensibilidade em reconhecer parte de minha tendência intelectual!
    Para finalizar, você conhece Humberto Maturana? Muito do que você disse é corroborado por ele. Até a próxima, abraço.

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