sexta-feira, 9 de março de 2012

De Ganga Zumba para a UNA

O quadro das comunidades remanescentes quilombolas atualmente apresenta uma triste realidade. O Brasil tem 2.228 comunidades remanescentes de quilombola, mas a maioria vive sem nenhuma assistência do governo, no que concerne aos direitos dessas comunidades, assegurados pela Constituição Federal, por leis e decretos complementares.

Apenas 70 comunidades possuem registro no INCRA e outras 100 estão em processo de regularização. Com mais da metade das comunidades quilombolas localizadas no nordeste do país, com mais de 1,4 mil territórios. Algumas delas também existem na região norte, como no Amapá. Onde em conjunto com uma área de preservação ambiental, coexiste uma comunidade remanescente quilombola. O Curiaú.

Pode parecer ao resto do Brasil que a influência negra no Amapá não é representativa. Mas o que leva muitos a um verdadeiro engano. Afinal a cultura negra no Amapá é muito forte, tanto que sua cultura e seus costumes se embasam tanto nas origens indígenas quanto na influência da nação negra. Prova vista o Marabaixo e seus ladrões, cantados aos quatro cantos das terras do Amapá, que constitui um patrimônio um cultural inalienável.

Hoje em visita de alguns antropólogos amigos que vieram conhecer o Amapá, tive a infelicidade de sugerir uma visita a UMA (União dos Negros do Amapá), que pelo roteiro deveria ser um centro de divulgação da cultura negra no Estado, servindo até mesmo como referencia aos pesquisadores das várias vertentes dos estudos da sociedade humana e servir como polo informativo da importância e da influencia da cultura negra no Estado.

Ledo engano pensar que poder-se-ia tirar do local, em estado avançado de abandono e depredação alguma informação útil sobre a história e a formação do Estado sob a influencia da população quilombola, em um centro que foi criado para a divulgação da cultura negra.

Ao conversar com as pessoas presentes, muitas me relataram que o local sofre com o abandono por parte do poder público e essa inércia inibe que as comunidades negras, tanto urbanas, quanto as residentes na APA do Curiaú, possam divulgar suas raízes.

Mas a nossa Carta Magna confere aos Estados e ao Governo Federal a competência para promover a proteção do patrimônio Histórico e Cultural. De onde parte o princípio que a UNA foi uma criação do governo de João Capiberibe. Mas que segundo as pessoas que frequentam o espaço. Só sofre intervenções na semana da consciência negra e nada mais. O resto é o total abandono.

O espaço também se presta a reuniões políticas e também a quem se prevalece da raça para a autopromoção. Parte-se do princípio de que a comunidade negra tem sua representante expressiva e atuante na Assembleia Legislativa. Mas que constantemente se diz vitima de discriminação racial.

Oras, senão o povo e principalmente o eleitorado concedeu a sua representatividade à deputada e a mesma se diz discriminada, o que pensar então desta atuação? Afinal espera-se a mesma atuação das bancadas ruralista, evangélica e empresarial quando elege seu representante nas casas de leis e lhe confere os doutos poderes para reprimir estas atitudes. Esperam ações direcionadas ao povo em sua totalidade, mas também muitas ações que beneficiem as suas seções sociais também.

De que adianta ter um representante que o tempo todo se queixa das mesmas mazelas que a coletividade por si só já padece? As ações da nobre deputada devem descer a falácia e a retórica partidária e sim, lutar pelos direitos das comunidades negras, que historicamente já pagou o alto preço do abandono e da omissão da sociedade que se diz branca e superior. O resto é pura politicagem de camarim...

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