sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Dalai 2


Na verdade, essa deveria ser "Londrina" e não tibetana, mas vamos lá. Leicester Square fica entre dois pontos bem conhecidos pelo turista que visita a capital inglesa: Covent Garden e Piccadilly Circus ao norte de Trafalgar Square. Não é sem motivo que cito um cinema no texto do livro. Leicester (fala-se Lester) tem inúmeros deles. No mais famoso, Odeon, um ingresso chega a custar £8 (cerca de R$30). Mas vale pelo charme.
Eram três e cinco quando olhei para o relógio. Apesar do ar rarefeito e do travesseiro de oxigênio estar praticamente no fim, não acredito que tenha sido a altitude o motivo de todo o mal. A maldade que impregnava o ambiente não vinha de fatores externos, eu sabia. Estava em mim e não parecia querer ficar escondida por muito mais tempo.
Levantei, acendi o terceiro ou quarto cigarro da noite, algo proibido na altitude de 3.700 metros de uma terra proibida e fui à janela. À minha frente, a imensidão do Himalaia. Abaixo, dois prosaicos carros estacionados em um pátio imundo. O silêncio da madrugada era cada vez mais alto no quinto andar de um hotel sem nome. O único movimento era o da fumaça dançando na trajetória esperada tendo a cordilheira como pano de fundo. A calma que eu tanto buscara servia agora de combustível à minha insônia.
Perdido no topo do mundo. E o que me resta são as formas de uma fumaça pairando no céu tibetano. Formas que lembram templos, monges, papiros, montanhas, chás e velas de manteiga de yak, degustações de pulmões de carneiro, frio, muralhas, trilhas, trocas, mais frio, mantras, imagens protegidas por vidros, budas seculares, muito frio, palácios invadidos, chineses, cabanas, bandeiras, fé, um frio insuportável, crianças, rajadas, frio...O vento cortava meu rosto às seis da manhã quando despertei do pesadelo na minha primeira noite em Lhasa, a lendária capital do Reino do Tibet.

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