Vemos com certa reserva a crise que vem ocorrendo na região norte da África, em particular as revoltas populares no Egito.
A causa disso é que já estamos quase acostumando com crises naquela região sempre conturbada do mundo árabe. O presidente secular do Egito, Hosni Mubarak, anunciou que formaria um novo gabinete de ministros, após ter demitidos todos eles, incluindo o primeiro-ministro egípcio, Ahmad Fuad Mohieddin. A medida é uma tentativa de encerrar a crise em que o país se encontra desde 25 de janeiro, quando manifestantes e policiais entraram em choque, em confrontos que se tornam cada vez mais violentos.
Os protestos, que se espalham pelo país, têm o objetivo de forçar a saída de Mubarak - no poder desde 1981. E nesse ínterim, o Egito só teve três presidentes desde 1953, com as vedetes Abdel Nasser, Anwar Sadat e o presidente tampão Muhammad Naguib, Sendo Mubarak o terceiro longevo.
As alterações no governo egípcio são manobras de Mubarak para não deixar o cargo, apesar da crise política em que o país se encontra. Os manifestantes que foram às ruas da capital, Cairo, e de outras cidades do país, exigem a saída dele do poder. Na política de Faraó, governo designado pelo próprio Rá.
Uma coisa é certa, a hereditariedade do governo está ameaçada, pois a crise com mudança no governo tira de cena o filho de Mubarak, Gamal Mubarak, tido como potencial sucessor na Presidência do Egito – ele ainda deixou o Partido Nacional Democrata (do governo) e isso foi entendido como sinal de que ele não irá disputar o cargo.
O governo tenta conter os protestos através de medidas como toques de recolher e bloqueio de telefonia e da internet. Com o toque de recolher As Forças Armadas já pediram à população egípcia que evite participar de manifestações públicas e respeite o toque. Parte da telefonia celular no país vai sendo gradualmente restaurada, mas a internet ainda está bloqueada.
Mesmo assim, milhares de egípcios ocupam em massa à praça central de Tahrir, no Cairo, epicentro dos protestos nos últimos dias. O centro da capital é patrulhado por tropas do Exército, enquanto a polícia vigia outros pontos da cidade.
As tentativas de Mubarak para pacificar o país com as alterações feitas no governo, no entanto, não bastam, segundo as lideranças da oposição. O porta-voz do grupo Irmandade Muçulmana, Walid Shalabi, por exemplo, já declarou que espera um “governo que tenha interesse em lançar as liberdades públicas, que resolva o problema do desemprego e que não trabalhe em benefício de um só grupo”.
O líder opositor e prêmio Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, afirmou, por sua vez, em entrevista, que Mubarak “deve ir embora” e que os protestos “irão continuar com ainda mais intensidade até que o regime de Mubarak caia”.
ElBaradei tem apoio das classes mais altas e intelectualizadas e já anunciou sua disposição em assumir um eventual governo provisório, caso Mubarak seja derrubado. Já a Irmandade Muçulmana é um grupo fundamentalista islâmico, ligado ao Hamas palestino, foi posto na clandestinidade por Mubarak, sob pressão do Ocidente e defendem a adoção de leis religiosas no Egito, baseadas na sharia (código islâmico, baseado no Corão).
Mubarak nunca, em sua administração, enfrentou tamanha onda de protestos. Os egípcios pedem sua saída e a implantação de uma democracia real, sem eleições fraudulentas, uma acusação que pesa sobre o governante egípcio.
Mubarak já recebeu apoio do rei da Arábia Saudita, Abdullah Bin Abdulaziz Al Saud, que condenou os “intrusos” que "bagunçam" a segurança e a estabilidade do Egito em nome da liberdade de expressão".
Também manifestou apoio a Mubarak o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas. Em um comunicado divulgado por seu gabinete, Abbas declarou “solidariedade ao Egito e compromisso com a segurança e a estabilidade”. Além disso, o presidente da Autoridade Palestina “expressou seu desejo de que Deus abençoe o Egito e seu povo, que sempre se mantiveram ao lado do povo palestino”.
Mesmo sendo um regime autoritário, o Egito é um dos principais aliados dos Estados Unidos e da Europa no mundo árabe. O principal temor do Ocidente é que a Irmandade Muçulmana possa assumir o governo do país.
Além da Jordânia, o Egito é o único país árabe a reconhecer o Estado de Israel. Qualquer mudança brusca no regime de Mubarak pode tornar mais tensa a política já inflamada da região.
Enfim, olhamos de fora esta crise quase que particular do mundo árabe, talvez por acharmos que isso não nos afeta diretamente. Nem Obama está tão tenso, afinal ele não vê em quê isso possa afetar a entrega de petróleo em casa. Por enquanto, para eles vale o tão famoso dito: “Eles que são núbios, que se entendam...”
Maravilhoso domingo.
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