domingo, 24 de abril de 2011

Nem anjos nem demônios


Resolvi passar a semana santa com minha irmã e minha mãe em Niterói, faz uns quatro meses que não nos vemos então aproveitando a emenda Tiradentes - sexta feira da paixão. Peguei um avião e fui. Feriados geralmente são para farras e festas, eu geralmente me excluo a estes entrudos e prefiro usar o bom senso para reflexão.

Ainda ontem mesmo quando imaginava um tema para o artigo de páscoa, vi no Jornal Nacional uma reportagem sobre estudantes de diversos ramos; engenharia, farmácia, psicologia e outros, em um mutirão para construir casas populares pelo intermédio de uma ONG.

Bem ao lado, logo no começo da reportagem, ouvi um comentário despropositado de minha mãe: “_Pra que isso já?”. Tipicamente o desprezo pelos movimentos sociais e do fazer sem pedir em troca, não fazem parte do dialeto de minha família mercantilista, mas o curioso foi o fato de ver que ao longo da reportagem, em que as pessoas emocionadas pela entrega de uma casa, muitas cheias de filhos, e outras até esperando mais filhos; e os estudantes todos manchados de tinta verde após o fatigante trabalho de construir casinhas de 60 metros quadrados.

Vi o rancor e o desprezo abandonarem o rosto da velha face enrugada de minha mãe. Acho que a sensação de ver pessoas que dormiam em barracos de papelão, muitas vezes encharcados ela chuva e encolhidos frio, fez amolecer um pouco da dureza e ausência de solidariedade que habitam o coração da velha senhora que mora seu palácio de cristal. Infelizmente a percepção foi só visual, já que não houve menção ditada ao fato.

A lição que tiro disso, é que todo mundo pode mudar, pode agir, só não o faz se não quiser; se não fizer mesmo; oportunidade? Essa existe para todos. Um mundo melhor é sonhado pela humanidade desde que o homem começou a pensar no bem de si e dos outros. Passamos por momentos onde esse altruísmo foi mais evidente, com os filósofos e sociólogos do século XVIII, mas decaiu à medida que fomos olhando mais para nossos umbigos e desprezando o alheio sofrimento.

Nem mesmo o momento reflexivo da páscoa, para os católicos ou do pesach para os judeus, é levado em consideração aos que se atém aos famigerados ovos ou as farras que antecedem a páscoa dominical. Todos nós às vezes nos sentimos desamparados, órfãos por alguns momentos como me senti na hora do: “_Pra que isso já?”. Mas isso passa. Até mesmo Jesus se sentiu assim na hora do Eloi, Eloi, lama sebactani?

Então assim como ele devo me resignar e aceitar meu destino e aguardar a recompensa divina, não tão dadivosa quanto à dele que foi ressuscitado e ascendeu aos céus para junto de Deus. Não sou tão pretensioso e levado a soberba tanto assim, mas com certeza meu olhar mais humano que o de minha lúcida mãe, será levado em consideração na hora de remir meus pecados.

Feliz páscoa amigo leitor.

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