segunda-feira, 18 de abril de 2011

Uma doce conversa...


Meu amigo Aramis Weimar sempre me contava as passagens das agruras de sua vida, um dia desses ele estava me relatando como contou à sua filha que tinha um cancer no pancreas, achei a história tão interessante que resolvi escreve-la e incluí-la aqui.

"Foi num sábado de manhã que contei tudo à minha filha...

Caminhávamos, como sempre, de mãos dadas no paredão do Porto Arthur...ela tomava um sorvete, olhando as ondas que se quebravam sobre o muro de arrimo...

Depois de muitas hesitações, e de muito pensar no que dizer, e porque é importante nada esconder às crianças, lá desfiz todos os nós na garganta e consegui vencer os meus medos de pai...

"Filha, o pai tem uma bolinha no pâncreas; lembras-se, quando estudamos o pâncreas no corpo humano lá para a escola? Bem o pai tem aí uma bolinha, que tem que ser tirada com uma operação, senão o pai pode ficar muito doente!"

Olhou-me, e abraçou-se a mim carinhosamente, com força, fazendo-me aquele sorriso que sempre me faz quando passeamos juntos...

Lembrei-me de um dia de lágrimas em casa do meu avô, era eu pequeno. Tentei seguir esse exemplo que o meu pai me deu um dia...

Revi-o ainda com a espuma da barba na cara, disfarçando as lágrimas, apertando-me contra o seu corpo, enquanto alguém na varanda acenava em direção ao carro onde a minha avó partiu para o hospital, não me lembro bem, mas acho que se foi para não voltar mais a casa...

Eu choro nos filmes. Ás vezes até a ver desenhos animados. E já me preparava para o pior, quando ela apontou para um pequeno cão que passava, e correu para ele, largando-me da mão. Isso me deu alguns uns segundos para me recompor.

Segundos depois, quando voltou, correndo para mim, abriu os braços e perguntou-me: pai há quanto tempo você sabe disso?

"Há umas semanas, mas andava com medo de te contar. Não te queria assustar filha!" - respondi-lhe eu.

Foi então que, com um ar confiante, me respondeu: "não se preocupe pai: confia nos médicos e nos hospitais, não confias?"

Disse-lhe que sim, e ali ficou arrumado o assunto, sem grandes dramas e com a promessa de lhe arranjar um telefone para ter sempre à mão, para falarmos sempre que quisermos enquanto estiver internado...

No fim do passeio, lá rematei com a minha velha frase: "quem é a filha mais querida do mundo?"

"Sou eu, respondeu-me ela..."

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