quarta-feira, 20 de abril de 2011

Uma pulga atrás da orelha


Meu catolicismo costumava dar umas derrapadas. Não que eu não estivesse preparado para relevar algumas passagens bíblicas meio nebulosas demais para a minha então tenra compreensão, mas outras simplesmente me pareciam conversa de pescador. Quer dizer, de uma maneira geral a história toda até era bacana e fazia seu sentido, mas alguns detalhes às vezes me deixavam com a pulga atrás da orelha.
A Última Ceia, por exemplo. Eu sempre achei o seguinte: deve ter sido O Último Café da Manhã ou, no máximo, O Último Almoço. Tentei rever os cronogramas, horários, a ordem dos eventos e todo o resto, mas por mais que eu fizesse e refizesse os cálculos, eu não conseguia descobrir como foi possível espremer tanta coisa entre uma noite de quinta-feira e uma tarde de sexta. Pensa bem, Jesus estava numa ceia (então devia ser fim do dia), foi preso, levado pelos guardas, encaminhado para Pilatos, Pilatos mandou chicotear, foi para Herodes, voltou para Pilatos, Pilatos mandou perguntar para o povo quem devia ser eliminado no paredão, Jesus ou Barrabás, Jesus fez todo o caminho pra ser crucificado. Tudo, literalmente, da noite para o dia, naquele tempo em que tudo era feito a pé e a comunicação em tempo real era isso mesmo, tinha que ir lá e comunicar ao vivo e a cores. Para mim não fazia o menor sentido, não dava tempo, nem se usasse um teletransportador do Star Trek.
Mas eis que Sir Colin Humphreys, professor e cientista de Cambridge, veio em meu socorro esta semana. Parece que toda essa confusão na minha cabeça não passou de uma simples questão de calendário. Troque de sistema de folhinha e podemos ir da véspera até uma semana depois. Convenhamos, 24 horas a mais podem fazer bastante diferença. Daí que a última ceia deve ter acontecido na quarta, eliminando a entrada do teletransportador na história.
Claro, essas coisas não chegam a comprometer the big picture, embora eu ache legal contar com essa mãozinha da ciência para explicar algo que sempre me deixou curioso. Além disso, para efeito de feriado (algo sempre relevante no calendário da brasilândia), antecipar a quarta e emendar a quinta não parece uma má idéia. Mas o que eu acho mais curioso é constatar que aquela história maluca do Monty Python sobre a Penúltima Ceia de repente começou a fazer muito mais sentido.

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