segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Uma copa por um pato

16 de julho de 1950, duas da tarde. Estádio lotado, a população brasileira aguardava tensa os minutos finais; 120 milhões de corações focados para uma só batida e quase 200 mil pessoas dentro do Maracanã. Lotação só mais tarde próxima com o show de Sinatra. Esperavam para o grito de campeão mundial. Ghiggia frustrou o sonho dos brasileiros naquela tarde ao dar o segundo título para o Uruguai pelo gol de desempate; calando uma nação inteira, o que criou a mais decepcionante história na crônica esportiva brasileira.

Atualmente 12 cidades-sede se preparam com seus monumentais estádios: a Arena do Corinthians em São Paulo, a Arena Fonte Nova na capital baiana, o ambicioso estádio das Dunas em Natal, o velho Beira Rio em Porto Alegre seguido da relíquia de 1950, o Maracanã no Rio, o Castelão em Fortaleza, a arena Pernambuco em Recife, A Arena da Amazônia em Manaus, o Mané Garrincha em Brasília, O Pantanal de Cuiabá, a Arena da Baixada em Curitiba e o Mineirão em BH.

Cidades criteriosamente escolhidas para representar o melhor do Brasil, sem deixar de contemplar todas regiões do “continente brasileiro”. O fomento que este evento deve trazer à economia soa muito como uma corrupção do conto de Ésopo onde a galinha dos ovos de ouro acaba sendo, na versão brasileira, trocada por uma pata.

Com a falácia do desenvolvimento, não temos senão como comparar, o mundial da África do Sul com o do Brasil. Afinal, se formos comparar com as ultimas copas, que por ironia foram realizadas em países de grande renda per capta e infraestrutura mais organizada e moderna, por que não dizer do ciclo dos países mais ricos? Já que França, Estados Unidos, Japão (em conjunto com a Coreia) sediaram os eventos passados.

Na África do Sul as coisas não mudaram tanto após o evento. O desenvolvimento deixado, senão pelas obras dos estádios, são de longe os da terra prometida da copa. Sendo o trocadilho, a FIFA dá, a FIFA leva. Sendo assim a Copa do mundo não alterou a rotina dos países ricos que a sediaram e muito menos mudou a sorte da África do Sul.

Somos um país que ainda pode sonhar com uma Copa do Mundo, mas quando temos que abrir brechas na lei, como a gratuidade e meia entrada que são direitos adquiridos, só para satisfazer Blatter e a FIFA, ficamos a mercê de que o pão e circo ainda povoa a mente de nossos políticos. Quando temos tantos problemas internos com a corrupção, a falta de saúde pública decente, educação eficiente. É meio prematuro se festejar a Copa do Mundo.

As obras em aeroportos, principal gargalo do sistema projetado para 2014, devem acontecer, mas com o improviso e o jeitinho brasileiro de sempre que tanto conhecemos. Desenvolvimento econômico nos setores-chave, como portos, indústria, exportação e agricultura não vão sofrer nenhum impacto com a passagem da Copa do Mundo, e nem devem, afinal ela só fomenta imagem, direitos de mídia, propaganda e o turismo, e uns caraminguás para o comercio local e mais algumas efemérides.

Com 2 bi de orçamento estourado apenas no primeiro ano das obras, não duvido muito que aconteça como Tucuruí, represa construída pelo consórcio Camargo Correa, que só na sua construção teve aditivos de quase 10 bi a mais que o previsto. E muita gente lucrou com isso, incluindo a própria Camargo que dobrou seu capital acionário de 500 mi para 1 bi, durante as obras.

A Copa do mundo é nossa! Isso é uma certeza. Se o título virá, não sei, mas que a pata dos ovos de ouro deve multiplicar o capital ativo das empreiteiras envolvidas nas obras dos estádios e infraestrutura, com certeza vai precisar de um companheiro para reprodução. Os patos investidores: Nós, os contribuintes...

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