sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

De Macondo à Macapa

“Macondo é uma cidade de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos”.

Assim Gabriel Garcia Marques descreve a cidade que faria parte de sua literatura em muitos contos, entre eles meu preferido “Cien años de Soledad” no qual retrata a saga de uma pequena vila que desponta ao longo de um século em crescimento populacional, progresso, política, mas cercada das mais estapafúrdias esquisitices que se pode sonhar acontecer em uma cidade.

Mas do universo fantástico de Garcia Marques, podemos importar alguns tópicos do que fatalmente não tem como comparar com a fantasia do criador da família Buendía e seus personagens surreais. À tão incomum capital amapaense.

Assim como Macondo, Macapá nasceu povoado, quase um assentamento, afim de proteger a foz de entrada de um rio estratégico, mas quase sem contato com o mundo exterior. Sua economia ao invés de se basear na Companhia Bananeira se baseou na economia da ICOMI, o que lhe rendeu quase meio século de depredação e exploração, deixando um imenso buraco azul no meio da serra.

Macondo também tinha seus personagens folclóricos, assim como Macapá teve seu momento Barcelos que entrou para o cancioneiro popular como politico anedota, assim como aconteceu com Vargas e Barata. Outros também tentam entrar nesta vida e virar lenda, mas ainda não estão prontos, mas batalham arduamente para isso.

Cada vez mais me convenço que esta terra vive em um mundo realmente paralelo, com políticos que tentam a cada pleito convencer a população de que tudo será diferente e as coisas vão ser melhores, simples tática de convencimento que ainda convence muito, já que a maioria dos pleitos conta com forte aporte de capital para captar o sufrágio legal ou ilegalmente, que vão desde a velha carrada de aterro e as cestas básicas, até novidades como carrinhos de churrasco e ecobikes.

Em uma terra onde o governo é quase uma junta governativa, tantos interessados existem a opinar nos rumos e decisões onde apenas um único eleito teria direito de fazê-lo, é obvio que não tardaria para que mais um aparecesse com o brado de mudar sem esperar, surgindo assim um governo paralelo, perpendicular ou adjacente, que de nada reflete o legalmente constituído, se visto por uma opinião pública dividida em castas, quase sociedade indiana.

O que se esperar de uma cidade onde a mídia que por luta e por ideologia, conseguiu uma liberdade de exposição de idéias e privilégios quase sacerdotais de proteger as fontes, cambem para um dos lados ou para uma das vertentes destas castas, onde dissidentes dentro dos próprios núcleos se digladiam. Não só nas ruas como nos meios disponíveis.

Onde para um povo tão pobre, uma assembleia tenha tantos anseios de gastos que não acompanham a realidade de uma economia que cada vez mais dependente de repasses e mesadas da união, parece sentir-se em outro mundo, quem sabe em Macondo mesmo.

Subir ao mundo, vê-se pseudo-comunicadores exercendo o puro aristotelismo e expondo ao ridículo as suas deformidades, e talvez em um anseio do nada dizer, derramam não só café em cima de seu povo, mas em jocosos atos de ignorar a sua existência amparando-se em argumentos e regras que os blindam de qualquer dano, assim como os vidros peliculados de seus carros não populares.

Em uma terra onde prefeito e governador são primos e pela natureza genealógica desta terra, é muito capaz que não só toda a situação como toda a oposição tenham alguma consanguinidade é de se estranhar as divergências de opinião como se todos estivessem constantemente sobre um tabuleiro de xadrez em beligerância total, onde a natureza de um comportamento maniqueísta cria um clima de rivalidade eterna.  

Terra esta que parece agora ansiar pelos anos duros dos generais de plantão, onde por simples suspeição ideológica se era capaz de desaparecer em uma noite qualquer e nunca mais se ouvir falar de quem quer que fosse o divergente do sistema. Ou que o pároco local tenha que deixar sua messe para ir correr atrás da saúde pública para os que se esfacelam pelo câncer.

A arrogância de cada um se faz pensar o quanto parecem invisíveis, mais do que “transparentes” os principais interessados, que são a maioria, da população que nem politizada é, mas que assiste com perplexidade e muito pouco entendimento do que realmente esta acontecendo a sua volta.

Mesmo com as propostas de mudança, ou esperança de harmonia, sabe-se lá sua cor; branca, verde, amarela ou azul, desde que venha, mas que venha tirar esta mancha de uma terra onde os sortilégios fazem com que tanto prefeito e governador sejam presos, onde senadores e deputados são cassados por compras de voto a prestação, ou de políticos que entram e saem dos mandatos ao humor da interpretação da lei.

Enfim Macondo é aqui em Macapá! Cercada de fantasias, plumas e paetês. Cheia de personagens e personalidades onde mais cedo ou mais tarde um deles assumirá o papel de José Arcádio Buendiá, primeiro protagonista do livro de Gabriel; que sonhava com uma cidade onde as casas tinham paredes de espelho...

2 comentários:

  1. valeu o texto, gostei!!! DE SUCUPIRA A MACONDO....falta a última parte desta trilogia DANTESCA.

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  2. retornei : MACONDO > SUCUPIRA > MACAPÁ : TAÍ A TRILOGIA. Um abraço Charles...por mais um texto genial.

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