quinta-feira, 10 de junho de 2010

Poliglota sim, tapado não!


Acho que em algum momento de sua vida você já deve ter passado por uma situação em que você fala claramente das suas ideias, informações ou pontos de vista e seu ouvinte parece não entender nem uma palavra do que você disse. 
Eu constantemente passo por isso, e não é só com meus alunos, já que sou professor e lido diariamente com muita gente inteligente, mas também muita gente tapada demais, e olha que meu vernáculo não é tão rebuscado assim. E sempre me policio para não misturar um dos cinco idiomas que manipulo, com minha língua mãe. 
Às vezes acho que não estou falando o idioma pátrio com meus interlocutores. Até mesmo a mãe da minha filha (está bom pra você assim?) tinha essa dificuldade premente de me entender, eu acabava de falar algo para ela e ela discorria milhares de abobrinhas como se eu não tivesse dado nenhuma palavra explicando o fato em questão. O pior mesmo é o tipo de aluno com o qual você fala durante 50 minutos sobre determinado tema e quando chega ao quadragésimo nono minuto ele diz secamente: Eu não entendi, dava pra você explicar tudo de novo?
Aí é a gota d'água, afinal é inconcebível que um ser humano, dotado de um senso crítico e uma anatomia cerebral da qual só usa 6% da capacidade, mas usa, me dizer que após uma cantilena de quase uma hora, que não entendeu nada. Pra mim isso é quase como tirar um zero; e zero é ausência total de conhecimento, uso com moderação, mas de vez em quando tenho que lançar mão deste atestado de imbecilidade documentada.

Uma vez, quando eu discutia com policiais militares os meus direitos constitucionais sobre a moradia do cidadão brasileiro, após citar a constituição e as garantias ao cidadão. Um PM que também padecia desse grau anacrônico de imbecilidade virou para o outro e disse: “Esse cara tá bêbado ou drogado, que porra que ele a falando?”.

Pra mim PM que não sabe nada sobre direitos constitucionais, é um especialista em desserviço à segurança pública. Mas o pior é que eu como cidadão que paga uma fração dos 200 bi de impostos desse país ainda tenha que engolir o acinte de ser chamado de bêbado e drogado.

O campeão de audiência é claro é o responsável pelo artigo de hoje. É o judiciário brasileiro. Ontem uma figura rara do Estado do Pará foi condenada por pedofilia (alias não foi pedofilia por que isso não constitui nada no CPP) foi estupro de uma menor que o ilustre usou dos 9 aos 12 anos de idade para seu prazer carnal.

O que me revolta é a velocidade com que os direitos constitucionais desses pulhas endinheirados são defendidos pelos desembargadores e tribunais superiores neste país, afinal se essa velocidade se estendesse ao julgamento de todos os processos que abarrotam os tribunais, com certeza a justiça teria menos do que reclamar e mais para fazer, logo seria mais expedita. Mas o que me espanta mesmo é que após o julgamento os pedidos de Habeas corpus já sejam assinados e preventivamente como em alguns casos notórios nacionalmente. 

A velocidade de apelação e concessões a esses entes danosos à nossa sociedade é um caso a se pensar. Será que os pobres que estão alijados dessa velocidade jurídica estão encarcerados só pelo fato de não terem dinheiro para pagar um advogado menos chicaneiro que os já mal pagos defensores públicos? Ou será que para estes (cidadãos segundo a constituição, o princípio da isonomia) simplesmente falam um idioma que o sistema judiciário brasileiro ainda desconhece por não ter sido alfabetizado nesse dialeto popular. Isso carece de um zero para este golpe judiciário.

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