Esse clima de piedade e comiseração, que atualmente vem desempenhando o poder público, encontrou sua mais acabada expressão nas ações recentes do judiciário, já que o papel de vitimização em função do poder maléfico da seita satânica de Eliana Calmon tem feito até com que os evangelhos, onde "ama a teu próximo como a ti mesmo" sejam aclamados nas salas do judiciário como uma forma de manifestação demagógica sem precedentes bíblicos.
Mas no que constitui o princípio fundamental da conduta? Se nem mesmo a ética da piedade possibilitaria ao homem atingir a felicidade última. Mas nada vai nos fazer pensar que o pensamento fantasioso de Schopenhauer de que a mais completa forma de salvação para o homem somente pode ser encontrada na renúncia quietista ao mundo e a todas as suas solicitações, na mortificação dos instintos, na auto anulação da vontade e na fuga para o Nada. Mas nem um de nós foge e muito menos faz “nada”.
Desviemos um instante os olhos de nossa própria indigência e de nosso limitado horizonte; levemo-lo sobre esses homens que venceram o mundo nos quais a vontade, atingindo a perfeita consciência de si, se reconheceu em tudo que existe e livremente renunciou a si mesma... E vamos analisar esta hostilidade que quem está no topo e nas cadeiras do poder desenvolvem e estimulam seu séquito de seguidores a agirem da mesma maneira, assim como o judiciário tem hostilizado Eliana Calmon e as ações da equipe do CNJ.
Sua ética não se apoia em mandamentos e não é muito diferente das éticas criadas nos pavilhões carcerários, onde a lei e as relações sociais acabam se desenvolvendo pelo behaviorismo das ações, amparados pelo comportamento despótico que vão assumindo ao longo do tempo, nem tenho como determinar se é uma prerrogativa de um dos três poderes em si isolados, ou se é uma prática coletiva, mas por enquanto não é bom generalizar, afinal esse foi o erro de Eliana ao declarar a priori que todos os magistrados são bandidos.
Faltou-lhe um pouco da lógica matemática para impor as famosas condicionais matemáticas para agradar espartanos e persas. Mas antes na noção de que a contemplação da verdade é o caminho de acesso ao bem. Afina, o egoísmo, que faz do homem o inimigo do homem, advém da ilusão de vontades independentes que afirmam seus ímpetos individuais. A superação do egoísmo somente seria possível mediante o conhecimento da natureza única universal da Vontade. Vejo esse egoísmo na forma sistemática do governador do Amapá e de sua equipe niilista, assim como em certa fatia do judiciário que se apoia em muletas tortas para crucificar Eliana e o povo.
Então, em vez desse tumulto de aspirações sem fim, em vez dessas passagens constantes do desejo do poder o medo de perde-lo, em vez dessas esperanças sempre inalcançadas e sempre renascentes, que fazem da vida humana, enquanto animada pela vontade, um sonho interrompido, não perceberemos mais do que esta paz, mais preciosa que todos os tesouros da razão, a calma absoluta do espírito, esta serenidade imperturbável, tal como Rafael e Corregio a pintaram nas figuras de seus santos e cujo brilho deve ser para nós a mais completa e verídica anunciação da boa nova: a vontade desapareceu; subsiste apenas o conhecimento.
Prefiro acreditar que a mediocrização das instituições e poderes gerem um verdadeiro atlas da forma despropositada de agir e fazer com que suas militâncias e séquitos de assessores ajam da mesma maneira. Além desse efeito nivelador, na hegemonia das ideias modernas ainda um há outro perigo iminente: com o apagamento de todas as diferenças e a dissolução de toda autoridade legítima, prepara-se involuntariamente o caminho para a barbárie e a tirania. Fato de que estamos muito próximos a alcançar, visto que o desrespeito dos poderes em relação ao cidadão tem sido cada vez mais evidente.
Ao autoproclamarem-se os príncipes da moral absoluta, não apenas instituem a unanimidade gregária no bem e no mal; além disso, com o auxílio de uma religião que fazia a vontade dos mais sublimes apetites de animal-de-rebanho, e os adulam. Faz chegar ao ponto em que, mesmo nas instituições políticas e sociais, encontramos uma expressão cada vez mais visível dessa falsa moral. Trazendo perigo aos demais cidadãos já que os mais impacientes, os doentes e maníacos do citado instinto primitivo, cada vez mais furiosos arreganham os dentes de cães anarquistas que agora vagueiam pelos becos a espera de poder sair à luz.
Sejamos coerentes daqui para frente, mas sem pessimismos ou otimismos extremos. Pois a necessidade do poder sempre será amoral e ainda assim vital e sempre criará a pulsão incontrolável de que faz que o homem enfrente todas as vicissitudes para saciá-la, e que a sociedade será sempre um conflito permanente entre poderes, mas que transcendem a simples luta política partidária e ideológica, para que não acabem absorvidos pelas políticas clínicas dos sanatórios e das penitenciárias, pois isso é certo como a morte.
Dedico este aos embora não irmãos de ordem, mas honoráveis: Miguel Gil, Bonfim Salgado e Vicente Cruz, que sabem admirar a beleza do pensamento livre.
Bom dia, Charles! Primeiramente gostaria de agradecer a dedicatória de seu texto a mim e aos outros dois, Vicente Cruz e Bonfim Salgado.
ResponderExcluirEm segundo lugar, farei alguns comentários. Nietzsche foi um grande leitor de Schopenhauer, inclusive a forma nietzscheana de escrever em aforismos foi retirada de Schopenhauer. Depois de fonte inspiradora, este autor passou a ser fonte adversária de inspiração aos textos de Nietzsche, pois segundo este, Schopenhauer era regido por uma moral essencialmente cristã - e há varias críticas nietzscheanas sobre este padrão moral.
Esse jogo maniqueísta, foi o que eu entendi, que se configura nas relações de poder, em níveis nacional, estadual e municipal, tem criado modelos relacionais simplistas, fragmentadores e apequenadores do individual e do social. A crítica a estes modelos, me parece ser um dos grandes gritos de Nietzsche.
E agora, fazendo uma consideração de como me senti em relação ao teu texto. Posso afirmar que é um texto profundo, complexo e, ambiguamente, simples de entender. Um texto jovial, atual e, creio eu, autobiográfico. Porém, é preciso ter olhos para tanto.
Mais uma vez agradeço a dedicatória do texto.
Continue escrevendo, pois seu textos são contribuições significativas.
Abraço e até a próxima.
Mais
Meu caro, seu texto estaria bom, e traria uma vaga lembrança das ideías de Olavo de Carvalho, Pondé e Reinaldo de Azevedo, se o amigo não invocasse Schopenhauer e Nietzsche no título. Seu texto denota claramente que por algum "motivo" não entendestes as idéias dos citados filosófos. Contudo, é até natural, pois como diz o comentarista acima é " um texto jovial ", demasiado incipiente.
ResponderExcluirVeja, o amigo comete um erro crasso ao afirmar que o pensamento do sardónico e gregário Schopenhauer é fantasioso. O nobre não pegou o fio da meada. A vontade que o filósofo quer lhe mostrar relaciona-se com o sujeito individual, sendo que o Princípio da Individualização só pode ser encontrado no mundo da representação. As coisas só podem ser individualizada no espaço e no TEMPO amigo, e somente compreendidas na rede de conexão causal. Mas o fenômeno que não tem relações nem espaciais nem temporais, nem causais, não tem um princípio de identidade. Portanto, em nenhum sentido, somos idênticos à vontade, compreendes? Só podemos dizer é que a vontade é manifesta em mim, em você, nos seus leitores, e é presa, de certo modo a uma condição de existência individual, por seu insastifeito desejo de incorporar-se no mundo da representação. A vontade em si própria é ATEMPORAL e imperecível. Daí Schopenhauer LUCIDAMENTE propõe que a vontade manifesta-se entre fenômenos de dois modos: esforço individual e como idéia. A idéia corresponde ao universal, não ao particular. É a amiúde idéia do gênero humano, lembras? No mundo natural, portanto, o gênero humano é favorecido ACIMA do indivíduo, uma vez que no gênero humano a vontade de viver encontra uma personificação durável, enquanto indivíduo, julgado em si, é passageiro.
Destarte, a sua assertiva " A superação do egoísmo somente seria possível mediante o conhecimento da natureza única universal da Vontade ", está equivocada em relação ao pensamento do filósofo. Lembra Rousseu e sua pedagogia em tentar manter o bom selvagem distante da " Má " sociedade. Equivoca-se por invocar Schopenhauer e transpor sua idéia pela metade, ou ainda, temporalizar politicamente as instituições; já que aparentemente, tens poder de síntese.
Contra Rousseau e Schopenhauer vem Nietzsche que o amigo também cita e o faz parecer sociólogo. Procure saber os 04 Niilismos que Zaratustra combate e deliberadamente em 02 se identifica. Lembre-se que Nietzsche em termos de moral, ele faz tipologias para desconstuir a metafísica, principalmente de Descartes. Por isso, creio eu, que Nietzsche estaria dando uma risada cavernosa em ler o seu texto, onde apontas, o sujeito animal de rebanho inverso do que ele criou. Sua tentativa de usar o alemão para fazer um apanhado sociológico, não é uma boa, e isso é consabido por qualquer um que erroneamente se intitula " nietzscheano ".
Para não ser terrível igual ao Nietzsche, peço-lhe para que leia novamente Genealogia da Moral, associe com Além do Bem e do Mal, e Crepúsculo dos Deuses. E tente desvendar o porquê do sujeito na frase: "Penso, logo existo", não existe, segundo Nietzsche. Assim perceberás mais um erro seu.
Sem mais, apenas seja sutil ao tratar de filosofia e política. Não deixe que seus textos sobressaia apenas, tão quão a ferida na testa de Schopenhauer.
Desculpe me os erros, pois não sou filólogo como Nietzsche ou talvez a Vossa pessoa.
Caríssimo Travesseiro,
ResponderExcluirSeu comentário é bem vindo, como todos os que nos visitam e criticam, elogiam ou odeiam o que escrevemos aqui. Embora sua argumentação seja de tal maneira um estudo bem contundente de Nietzsche, Schopenhauer,Descartès, Rousseau e alguns outros. Mas este blog não trata exclusivamente sobre filosofia e nem tem a pretensão de fazê-lo, mas sim da associação dos acontecimentos políticos nacional e regional, onde cada texto aprecia um fato e discorre sobre tal, da maneira em que o autor acha ser conveniente, como por exemplo as citações de Schopenhauer e Nietzsche pelo ministro Marco Aurélio de Mello no momento da crise do CNJ. Fato que voce parece desconhecer, simplesmente no afã de uma forma realmente niilista reduzir toda a ideia repassada e simplesmente um pensamento exclusivo e imutável dos filósofos, algo que contradiz veementemente o princípio filosófico do pensamento livre. Mas apreciamos sua visita e seus comentários serão sempre bem vindos.
Um grande abraço!
Equipe do Coisas da Vida
Nossa! Opa! Entendido. Mas lembre-se q quando alguém detecta, no caso do seu texto uma exéquia da filosofia ( ela merece ), também exerce o principio filosófico do pensamento livre. Ou não?! Observe q nem toda citação condiz com o tema, ou ainda perpassa pela velha Erística. O problema do judiciário é q eles falam demais e julgam menos. É necessário eu enveredar nesse tema, se TODOS sabem a origem do absurdo? Creio q terei de passar a lhe ver como jornalista. Obrigado, e sem escaramuça, como certa vez ouvir d Darcy Ribeiro. Aguardo resposta. Vamos aprofundar na filosofia? Quem sabe Derriba, já q achas minhas colocações baseadas em Nietzsche e Schopenhauer imutáveis. Obs: escrevi igual twitter por q digitei do IPhone
ResponderExcluirDizia: Jacques Derrida
ResponderExcluirE ainda Exéquias ( IPhone é dificultoso ) releve!
ResponderExcluirPrezado Travesseiro,
ResponderExcluirAgradeço pessoalmente em nome da equipe a sua participação tão efetiva e que o texto "Parerga e Paralipomena pelo juízo de Zarathustra" tenha lhe merecido uma boa análise crítica. A finalidade deste blog é justamente essa: Fomentar o debate, estimular o diálogo e quiçá fazer com que muitos também tenham essa desenvoltura temática e conhecimento de causa. Com certeza sim, adotamos o debate, estamos sempre nas redes sociais e não hesite em nos contactar por lá (@chasborges) no twitter e (http://www.facebook.com/profile.php?id=100002605381594) no facebook. Este blog está sempre aberto a todos os leitores.
Um grande abraço,
Dr. Charles Borges