O
impeachment da presidente Dilma Roussef, ou de qualquer presidente da República
das bananas, ops! Digo, do Brasil. Exige um processo complexo, demorado e pode
não produzir o resultado imaginado por muitos brasileiros, e diga-se de
passagem os mais a eloquentes a ideia.
Após
instaurado o processo de impeachment no Senado, após a admissão da acusação –
por denúncia de qualquer brasileiro nato ou naturalizado no gozo de seus
direitos políticos -, por dois terços da Câmara dos Deputados, o presidente
ficará suspenso das funções pelo prazo máximo de cento e oitenta dias conforme
a Constituição Federal.
A
vacância do cargo do presidente, pelo impeachment decretado pelo Senado, não
leva necessariamente a novas eleições, mas a sucessão pelo vice-presidente da
República, no caso Michel Temer (PMDB), conforme prevê o artigo 79 da
Constituição Federal. Nesse caso, assumiria em seu lugar, pelo restante do
período do mandato, o vice-presidente.
Novas
eleições só ocorreriam se também o vice fosse processado e ao final declarado
impedido, o que não parece ser o caso. Ocorre que o impeachment é um processo
de responsabilização política de natureza pessoal, isto é, como todo processo
punitivo, pressupõe imputação por fatos do próprio acusado, não se estendendo a
terceiros, salvo os casos de concurso de agentes, ou seja, corréus ou
partícipes do mesmo crime.
Assim,
embora o vice-presidente não seja diretamente eleito, porque não recebe voto
pessoal, assumindo o cargo juntamente com o presidente, não pode ser
responsabilizado juridicamente por atos daquele, fora dos casos de coautoria ou
participação, como se a sorte de um dependesse da sorte do outro.
É
possível ver que o afastamento definitivo da presidente da República - que para
muitos é parte importante das mudanças necessárias para o país -, pode ser uma
medida muito mais simbólica do que efetiva. Tirar-se-ia dela o protagonismo do
comando, mas não os partidos que governam a Nação.
Frente
ao conjunto de demandas da sociedade brasileira, notadamente as que dizem
respeito à ineficiência dos serviços públicos essenciais e a incapacidade dos
órgãos governamentais em oferecer as respostas estruturais de que o Brasil
necessita, a demanda pelo impeachment é absorvida e ultrapassada, certamente por
se generalizar a consciência de que a causa fundamental dos nossos problemas é
de fundo ético; trocar o comandante de uma nau desgovernada pode corrigir o
rumo e até evitar o naufrágio, mas não nos levaria a um porto melhor e mais
seguro.
A
histórica corrupção e a impunidade no Brasil, por sua extensão e falta de
limites, é percebida cada vez mais como um problema que afeta a todos, que
contamina poderes e instituições de maneira geral. E, à parte explicações de
ordem sociológicas (o ingênuo jeitinho brasileiro, o é dando que se recebe), é
certo que já não podem ser vencidas com os instrumentos ordinários sob o regime
jurídico-político vigente de que se nutre.
Talvez
seja o caso de começarmos a indagar: por que o presidente da República deve ter
tantos poderes? Por que é tão difícil tirá-lo do cargo? Por que há julgamentos
políticos como o impeachment? Por que
devemos ter reeleição? Por que o presidente nunca presta contas ao Congresso?
Por que devemos ter tantos senadores e deputados? Por que os partidos políticos
devem ter o poder que têm? Por que os partidos políticos não são fiscalizados e
punidos? Por que um cidadão não pode eleger-se senão por meio de um partido
político? Por que os instrumentos de participação direta do povo, o plebiscito
e o referendo quase não são usados?
É
claro que essas indagações são apenas exemplificativas. Mas podem ser o começo
de uma discussão que deve ir paras as ruas, pois se quisermos mudanças duráveis
e efetivas, devemos surpreender os problemas no berço do sistema político, onde
são “embaladas” as soluções de que dependem todos os outros subsistemas e
poderes.
O
povo que vai às ruas, ou seja, a classe média - porque os governos neutralizam
as pontas: as elites e as massas; a primeira sente pouco os efeitos da crise, e
a segunda é anestesiada pelo assistencialismo -, parece descobrir que o campo
político como é o objeto das suas reivindicações.
Mas,
vamos convir: Dilma não é Color, as pedaladas fiscais não foram feitas em um
Fiat Elba e Michel Temer não é Itamar. E por mais anti-petista que eu seja. Com
certeza absoluta, devemos lamber as feridas e aguardar as cenas dos próximos
capítulos, pois com certeza nesses tempos de crise intensa, não vislumbro que a
criação de uma nova moeda possa mudar o Brasil.
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