sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A era do radio devil

As décadas de 30 e 40 foram os momentos áureos do rádio. Naquela época, o rádio tinha um papel preponderante como veículo de comunicação de massa. A melhor maneira de se manter informado sobre os acontecimentos de sua cidade e do mundo era através dele.

A força e a influência do rádio na vida das pessoas foi tão grande que um episódio que realmente aconteceu, foi o programa de Orson Welles, inspirado no livro A Guerra dos Mundos, de H.G. Wells. Na ocasião, Orson Welles transmitiu um programa especial do Dia das Bruxas, no ano de 1938, simulando uma série de relatos sobre invasões alienígenas à Terra. O programa causou tanta repercussão que a bolsa de Nova Iorque caiu, e alguns norte-americanos, assustados com a notícia, cometeram suicídio.

A magia de fada madrinha que o rádio tem; também é apresentada através da premissa de que você não precisa nem ser bonito, até porque como o meio radiofônico se utiliza apenas do som, nunca foi importante a aparência da pessoa. Por isso as mais belas vozes do rádio, nunca se mostravam ao público devida a falta de atributos de beleza.

Grande e nostálgica foi a era de maior impacto do rádio, já que na década seguinte ele perdeu espaço com a chegada da televisão. No entanto, mesmo com a sua decadência, podemos dizer que seu apelo foi mais profundo que o da televisão. Por se apoiar apenas no som, ele é naturalmente um veículo que exige mais atenção. Desta forma, naquela época, ele estimulava criativamente os ouvintes, pois cada um construía em sua cabeça aquilo que estava sendo transmitido. As histórias, portanto, ficavam no plano do imaginário, e é isso o que consiste o glamour dos programas radiofônicos.

Atualmente a força do rádio não se limita ao alcance em que as transmissões podem chegar, mas à força com que ele chega em milhões de casas como um instrumento formador de opinião ainda é grande. O rádio se firmou como um veículo das massas que orienta e esclarece a população quanto aos assuntos que fazem parte do dia-a-dia, seja através de personagens com os quais o ouvinte se identifica ou pela discussão de temas de interesse popular.

Assim como o rádio dá voz aos que não conseguem entrar no circuito (fechado) de outras mídias, ele impulsiona carreiras que, muitas vezes, desaguam na política como forma de continuar sua influência na vida pública.

Assim como em grande parte do Brasil, o ‘fazer rádio’ em algum ponto se encontra com a política. Não necessariamente pelo exercício direto de inclinações políticas, mas por popularizar locutores que chegam através do rádio à casa do ouvinte, e influenciam, mesmo que indiretamente, através de personagens, em decisões de ordem pública.

Neste ano de eleições vemos nomes que se construíram no rádio, migrarem para o patamar do legislativo na sua maioria. Usando seu poder de persuasão, já vi verdadeiros ícones dos programas de rádio, conseguirem convencer sem sortilégios, uma massa enraivecida em uma massa de ovação. Alguns apesar de se desvirtuar da profissão original, tendem a veia política de maneira positiva, sendo que outros se apagam de uma vez por todas na empreitada.

Não posso me furtar a também citar o motivo desta ode ao rádio, senão às suas mazelas. Uma delas são os programas de rádio que praticamente enaltecem padrinhos políticos, e mecenas da voz e da opinião de alguns radialistas que por terem ausência de personalidade, acabam substituindo a mesma por uma ideologia e uma retórica vazia.

Ouço rádio todos os dias o suficiente para ver seus vícios corrompidos, como o assunto mecanicamente repetido de se enaltecer governo ou oposição, dependendo do padrinho. Causa-me espanto, que não tão jovens assim são os tais "radialistas", para sucumbir as vaidades da juventude, mas o comportamento infantil de digladiar-se com ouvintes conflitantes, e até mesmo a explicita defesa de seu padrinho, os apaniguados gritam espumam em explosões coléricas contra tudo e todos que divirjam de seus ideais de militante difuso ou de aluguel.

Mas as partes hilárias, como ouvintes imitando personalidades da politica local, tendo livre fala em programas que se intitulam imparciais, fazem com que a infantilidade do ato chegue a anuviar a falta de ética dos que se intitulam jornalistas e que bufam do outro lado das ondas. 

Além disso, existem os ouvintes que são adestrados para falar nesses programas, em situações bem homogêneas, como quando os caciques dos grupos mecenas são entrevistados um eloquente ouvinte liga e monopoliza o tempo para que o cacique super-elogiado por lágrimas e afagos melosos não seja importunado por ouvintes críticos.

Risos a parte, surpreende a capacidade de algumas pessoas ligarem mais de uma vez com o mesmo timbre de voz, se passando por inúmeros personagens para enfim em uma gota de quase desespero tentar enaltecer seus ídolos de pés de barro. As vezes mensagens de texto de celular enviadas pelos "ouvintes", extrapolam o limite de 140 caracteres de elogios e loas tecidas aos "radialistas" e seus padrinhos.

Lagrimas de vez em quando são roladas, mas não as de crocodilo, mas pelo pesar de ver um veículo tão charmoso ser usado de maneira tão despropositada aos seus princípios iniciais e sendo levado a ruína por um ato tão reprovável de tais elementos. 

Viva a era do rádio!

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