quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Quanto mais velho, mais verde...

Um dia desses fui ao empório Santa Tereza, no mercado municipal de São Paulo, comprar alguns petiscos que só existem lá e na fila do caixa. O operador dizia a uma senhora idosa que em breve os clientes deveriam trazer suas próprias sacolas ou ter que pagar pelas de plástico que antes o supermercado dava para embalar as compras, uma vez que os sacos de plástico não eram amigos do meio ambiente.

A senhora meio que indignada pegou suas compras e disse: - Não havia esse negócio de meio ambiente no meu tempo!

Indignado o operador respondeu: - Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. A sua geração não se preocupou o suficiente com o nosso meio ambiente.

-Você está certo, respondeu a velha senhora, - A nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente... Ao ver os olhos da velinha se perderem em um súbito vazio de pensamento, a luz do que ela pensava me atravessou e pude ver e ouvir a mais bela argumentação que tive oportunidade em minha vida.

...Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidas à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.

Realmente não nos preocupámos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhávamos até ao comércio, em vez de utilizarmos o nosso carro de 300 cavalos de potência cada vez que precisamos ir a dois quarteirões de distância.

Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente. Até então, as fraldas de bebes eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam as nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido dos seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas.

Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?

Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou “pellets” de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar.

Naqueles tempos, não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a relva, era utilizado um cortador de relva, que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisávamos ir a um ginásio e usar passadeiras que também funcionam a eletricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora enchem os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes, em vez de comprar uma outra. Abandonámos as navalhas, ao invés de deitar fora todos os aparelhos ‘descartáveis’ e poluentes, só porque a lâmina ficou sem corte.

Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas apanhavam o carro e os meninos iam nas suas bicicletas ou a pé para a escola, em vez de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

Antes mesmo de pensar em abrir a boca para dizer algo em contraponto aos argumentos da tão crítica velinha, ela olhou para mim como se lê-se meus pensamentos naquele instante e com olhar entre o incisivo e o bem humorado, disse: - Então meu filho, não dá vontade de rir quando a atual geração fala tanto em meio ambiente, mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?

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