sábado, 11 de fevereiro de 2012

Entrevista da semana - Rodrigo Portugal

Militante ferrenho, com um ponto de vista bem defendido por uma voz que alterna em duas oitavas dependendo do estado de espírito e do tema. Rodrigo Portugal, uma "cria" dos movimentos estudantis que confessa-se um praticante do jornalismo. Já ocupou espaços bem diversos entre Deus e o diabo. Já foi Secretário Estadual de  Juventude e hoje faz a defesa dos seus argumentos de uma maneira irônica e bem divertida no rádio com o programa "O Troco" em parceria com seu correligionário Pedro Da Lua e na Televisão com "Batendo Lata" na companhia do também Pedro mas "Filé". Facebokeando em uma sala de espera no Aeroporto de Val de Cães, encontrei esta figura para uma entrevista que faz com que a gente veja uma outra "versão" do Portugal.



Coisas da Vida: Movimentos estudantis sempre geram bons debatedores em contraponto a politica vigente, você é fruto desses movimentos. Mudou muito entre ser um militante de escola e hoje ser um comunicador?
Rodrigo Portugal: Entrei para a comunicação e primeiro trabalhei no extinto Amapá Estado e depois fui presidente de grêmio. Conhecer a comunicação e todos os seus caminhos facilitam a vida de um militante politico. Pela linha que adoto continuo sendo um militante na comunicação. Totalmente parcial e apaixonado pelo debate. A militância nas escolas é muito mais complicada que em outros segmentos. Somos forçados no ambiente familiar a concordar com tudo que vem da direção da escola e do professor, é cultural... Na minha vida profissional a mudança foi mínima. Sempre fui questionador mesmo!

Coisas da Vida: Lindemberg Farias e Randolfe Rodrigues também se originaram desses núcleos e hoje são Senadores, e o Rodrigo? Tem essa intenção politica ou o cargo de eminência parda lhe apetece mais?
Rodrigo Portugal: O Amapá tem características que proporcionam aos seus habitantes que gostam da politica serem destaques. Posso dizer com qual vereador ou deputado eu quero falar e isso não é exclusividade minha. Entretanto sei que existe um abismo entre ser bem relacionado e conseguir arregimentar votos o suficiente para ganhar uma eleição. Estou preparado para ocupar qualquer função ou missão politica, quando se fala em vontade. Mas sou defensor da existência de um grupo e que alguém vai ter essa atribuição... Como diz uma amiga minha: "se alguém tem que mandar; que seja eu"... (risos)

E assim como o Randolfe e Lindemberg tenho preferencia pelo Senado Federal e nenhuma preocupação com o tempo em que isso vai acontecer...


Coisas da Vida: Você e o Pedro criaram um formato baseado em muitos programas televisivos e radiofônicos e acabaram chegando a uma fórmula própria, que incomoda, informa e às vezes chega a ser perseguidora. Você acredita que isso não é radicalismo em alguns momentos?
Rodrigo Portugal: O estilo de vida provinciana ainda vigente em nosso Estado faz parecer que sejamos inovadores. E não é bem assim. Tudo foi acontecendo; começamos no jornal impresso, resolvemos ir para o radio e fomos convidados para a televisão. Misturamos alguns formatos e passamos trabalhar o humor ácido, coisa que chama a atenção. Colocamos alcunhas nas figuras ilustres e questionamos hábitos intocáveis. Em uma rádio que estava praticamente morta,  abrimos os microfones para a opinião do público e defendemos nossos colaboradores e patrocinadores descaradamente; criamos um clima de guerra entre ouvintes e apresentadores. O povo gostou e divulgou nosso programa.
Na televisão a fórmula da interação foi mantida e ainda não havia Orkut, Twitter e Facebook. Isso que fazemos é um bate papo entre amigos, sem muito tato em alguns momentos, mas com o estilo que todos os ouvintes e telespectadores podem entender. Claro que passamos dos limites em várias situações. E assim funciona na roda de conversa.

Coisas da Vida: A dobradinha no rádio (o troco) e na televisão (batendo lata) tem uma amplitude enorme em todas as faixas sociais e etárias, um dia desses tomei café em uma casa muito simples de uma família humilde e estava sintonizado em vocês e logo em seguida fui de carro para o aeroporto com um empresário amapaense que também ouvia vocês. Isso é indicio de que vocês formam fortes opiniões. Não é um poder muito perigoso?
Rodrigo Portugal: Minha mãe é muito critica e trabalha para muitas autoridades e empresários conceituados e nunca falei para ela ouvir ou assistir os programas. Como ela anda em várias camadas sociais por conta da sua ocupação: um Buffet e vive nas feiras, mercados e distribuidoras, sempre atenta às conversas paralelas. E poucas pessoas têm o nosso sobrenome "PORTUGAL" e ela ficava ouvindo a opinião dos outros sobre o programa de rádio. Ela já lia o jornal e comentava quando a gente se encontrava. E em poucos dias a repercussão do programa chegou aos ouvidos dela por meio de clientes e amigos. É a minha principal referência de como anda a nossa popularidade. Nesse quesito não é mãe coruja. Quando se tem audiência o poder vem junto, só que não tenho crises de egocentrismo, me divirto com a coisa. E reconheço a capacidade de transformação ou mobilização que está em nossas mãos.

Coisas da Vida: O rádio é mais difícil de fazer por que você vende seu produto na entonação e não na postura. Historicamente o rádio criou ícones como Costa Filho, Chacrinha e Arthur da Távola. Mas também levou Givonaldo Vieira e Luciano Pedrosa para debaixo da terra, vitimados por seus desafetos. Você chega a se preocupar com sua segurança?
Rodrigo Portugal: Ter medo é necessário, agora não posso viver em função dele. Minha vida continua no mesmo ritmo, sou um ícone da comunicação, servindo de modelo e exemplo para outros que pensavam não poder entrar na comunicação.

Coisas da Vida: A sua afinidade com o Ex-governador Waldez Góes e o grupo pedetista é muito forte na sua fala e na do Pedro. Assim como a beligerância eterna com o grupo do Senador João Capiberibe. Mas a política é a ciência mais inexata das sociais. Você não corre o risco de no futuro politico que pretende, de militar pelo Socialismo do PSB ou similares?
Rodrigo Portugal: Enquanto o PSB for dirigido pela família Capiberibe essa possibilidade é remota. Já militei em favor da candidatura de João Alberto e fui coordenado pelo filho, Camilo em 98. E passei a acompanhar os movimentos da família PSB. Tudo funciona em beneficio deles e de mais ninguém, não existem chances de crescimento para os militantes enquanto eles não chancelarem. Uma missão quase impossível. No governo do Waldez não ocupamos grandes espaços, particularmente não fui nomeado e nem indiquei ninguém, ao contrario do governo da família PSB, que persegue e impede o crescimento dos que não seguem a linha de raciocínio definida por eles. Fomos aliados publicamente e rompemos da mesma forma, enveredamos pelos caminhos da comunicação na gestão PDT/PP em 2005 e conseguimos apoios e patrocínios mesmo questionando gestores da administração, chegamos a ser perseguidos pelo presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Amanajás, por falar dos valores do duodécimo, claro que falando muita bobagem junto com nossos ouvintes. No curto governo de Pedro Paulo, recebemos o comando da Secretaria de Juventude e ampliamos espaços na gestão. Temos gratidão e fazemos a defesa daquilo que defendemos antes. Além dos laços de amizades que temos com as famílias de Pedro Paulo e Waldez Góes

Coisas da Vida: Retornei há pouco tempo ao Brasil, mas sempre que chego, venho para o Amapá. E um dos movimentos mais incríveis que pude presenciar e olha que já vi muitos, foi a campanha para o IJOMA, que fiz questão de documentar para levar comigo. Você, o Pedro, Caetano, Pedro Filé e o padre Paulo fizeram um trabalho de formiguinha formidável. Mas muitos politizaram o trabalho e chegaram até a denegrir o movimento e o próprio padre Paulo. Em política realmente VALE TUDO?
Rodrigo Portugal: Politica é arte do convencimento e vale tudo para mostrar que o seu ponto de vista é o mais correto, agora ser flexível é fundamental para atingir o maior público possível. Somos agentes políticos capazes de grandes mobilizações estudantis e isso se tornou uma espécie de maldição positiva e não temos problemas em superar as expectativas alheias e as nossas mesmas. No rádio e na televisão, graças a interação e a criatividade invadimos os lares amapaenses. Já em relação ao IJOMA, Cesar Bernardo e Padre Paulo, ficamos envolvidos emocionalmente com a luta do jornalista que precisava arregimentar um exercito de 30 mil pessoas para doarem R$ 2 e resolvemos testar novos limites.
Essa campanha foi feita entre amigos e quase que toda nas redes sociais, a mobilização atingiu, melhor superou tudo que havíamos planejado e o Governo do Estado não cumpriu com o seu papel, através de gestores ou militantes. R$ 500 mil é muito dinheiro para uma mobilização feita por programas que não são considerados sérios, mesmo tendo uma audiência fantástica...

Coisas da Vida: Essa "invasão" que tem acontecido no rádio, de mídia unilateral que às vezes beira o ridículo com entrevistados duvidosos e ouvintes arrendados são mais hilários que as próprias tiradas que vocês fazem no programa. Isso não compromete a credibilidade dos radialistas sérios, como J Ney, Luis Melo, Carlos Lobato e até vocês que tem uma linha cômica, mas informativa?
Rodrigo Portugal: Atrapalha-nos financeiramente já que essas "porcaritas" aceitam qualquer $$$ para anunciar ou entrevistar figuras públicas, nem sempre aquinhoadas de inteligência ou argumentos. E nem podemos reclamar tanto já que entramos pela mesma porta e ganhamos destaque dentro do processo. O mercado vai valorizando o que quer consumir. Nosso Estado ainda vive em função da Avenida FAB e os locatários momentâneos de cada órgão público, e isso provoca a proliferação de porcarias midiáticas a todo instante.

Coisas da Vida: Apesar da negação constante e da veiculação quase como a propaganda nazista, o Governo do Estado tem ido mal nas ações e tem arcado com um alto preço por isso. A falta de conselheiros competentes tem gerado ações como a prisão do Ex- senador Gilvam Borges durante as férias do governador. Você vê o futuro deste governo com alguma perspectiva de mudança real ou declínio completo mesmo que isso penalize seus conterrâneos amapaenses?
Rodrigo Portugal: Esse permanente desencontro de opiniões e ações no GEA demonstra que a candidatura de Camilo foi produzida apenas para dar suporte às campanhas do Pai e da Mãe. Pelo que acompanho esse grupo, o fator surpresa é a falta de sintonia dentro da própria família Capiberibe que é sinônimo de PSB. Deveria ser muito simples eles assumirem as rédeas da gestão. Tem experiência administrativa e politica, podendo imprimir um ritmo acelerado de mudanças no rumo que eles desejassem. 
Não podemos deixar de levar em consideração as informações de bastidores que anunciam uma guerra permanente de vaidades e egos entre os casais dominantes JOAO/JANETE versus CAMILO/CLAUDIA. Para a oposição é fantástico poder deitar e rolar nos questionamentos acerca das incompetências sobre-humanas da equipe da "Mudança"...
Com a aproximação das eleições gerais, o verdadeiro comandante do navio de guerra do PSB vai assumir o comando das ações... E com o Capi, a máquina vai ser usada para garantir a reeleição do filho e da esposa. Claro que com tantos erros não será nada fácil...

Coisas da Vida: O prefeito Roberto Góes teve três anos de seu mandato em comunhão com um governador que além de primo é correligionário do PDT. Mas a PMM não avançou tanto quanto deveria. Você acredita que uma hegemonia partidária na Prefeitura e no Governo do Estado é saudável ou as gestões por ideologias diferentes tendem a estimular o ato de fazer, mesmo que seja por competição? 
Rodrigo Portugal: O Roberto passou dois anos como gestor parceiro do PDT/PP e considero que ainda falta um sendo de responsabilidade do Governo do Estado em compreender que Macapá não pode ser abandonada junto com quase 70% da população. Meu companheiro Pedro Da Lua é adepto da realização de gincanas para estimular o trabalho. E quando o brio dos gestores é tocado, as obras andam com mais velocidade. Esse discurso do PSB não cola mais. Prefeito e Governador devem ter compromisso com o cidadão e não com as suas militâncias, já basta a ocupação dos cargos, que considero legitima...

Estou preparado para ocupar qualquer função ou missão politica, quando se fala em vontade. Mas sou defensor da existência de um grupo e que alguém vai ter essa atribuição... Como diz uma amiga minha: "se alguém tem que mandar; que seja eu"... 


2 comentários:

  1. Gostei do material... Obrigado pela oportunidade de ser entrevistado tão francamente... Abraço

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  2. Ei, Charles e Portugal! Boa entrevista (como sugere a etimologia da palavra "entre" "vistas"), pois possibilitou uma contextualização histórica e diversa das relações do Portugal.
    Gostaria de deixar uma sugestão, fazer entrevistas com o Waldez, o Capibeirbe, o Camilo, o Randolfe, visando comparar a trajetória deles como o atual quadro político do Amapá.
    Um abraço e até a próxima.

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