quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Como se apoderar do filho alheio

Hoje tomei café com uma boa noticia, e não foi em alusão ao meu programa de radio preferido. Mas apesar de tomar conhecimento de que o Ministério do Trabalho e Emprego divulgou os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), onde o Amapá aparece com um saldo de geração de empregos na ordem de 7.256 novos postos de trabalho criados e um saldo negativo de apenas 59 postos encerrados, fiquei meio surpreso que não só pelo fato dos divulgadores dos números serem o Governador Camilo Capiberibe e logo em seguida a primeira dama Claudia, mas por reivindicarem para o governo do PSB o mérito pela criação de empregos.

Curioso com a suposta paternidade fui atrás do DNA para realmente tomar ciência da situação. Afinal se no primeiro ano o momento do primeiro trimestre foi para organização da administração, o segundo trimestre de enxugamento financeiro e pagamento de restos da gestão anterior e o terceiro trimestre para planejamento das ações. No mínimo é bem curioso que se tenha gerado esse saldo positivo de empregos via ações do poder público em apenas um trimestre.

Partindo do princípio de que a economia amapaense se baseia no comércio, mineração e a construção civil, fui buscar as origens destes postos de trabalho que fatalmente tiveram mais de 65% oriundos destes setores econômicos.

O comércio, apesar de ser uma das expressões econômicas mais fortes do setor privado na capital, passou por tumultuados momentos em 2011 que teve queda de -2,7% em relação a 2010, comparando com o Tocantins, por exemplo, que teve um crescimento de 25% no mesmo período. Sendo que o Brasil apresentou um crescimento de 1,4%. E que o varejo amapaense registrou o único índice negativo da região norte (-9,7%), ainda assim ficou para trás em relação ao mesmo Tocantins que cresceu nesse período (30,7%).

O mesmo comércio apresentou tímidos índices de crescimento quando analisados individualmente; móveis e eletrodomésticos (4,1%), supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (1,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos (1,1%), livros, jornais, revistas e papelaria (1,1%), veículos, motos, partes e peças (0,9%) combustíveis e lubrificantes (0,8%), material de construção (0,6%) e artigos de uso pessoal e domésticos (0,6%). 

Mesmo com essa retração do mercado e da falta de qualquer incentivo ou fomento do poder público nas ações do comércio varejista na expectativa de crescimento, no segundo semestre, criou postos de trabalho prevendo um crescimento provocado pelo período natalino em 214 postos de trabalho,  o que não se confirmou.

Na construção civil ter-se-ia a aposta maior, devido à profusão de obras, públicas e privadas, mas a expressão destes segmentos não foi tão crescente como se alardeia. Afinal o Amapá ainda tem um custo na construção civil entre os mais altos do país, o que diminui os incentivos neste setor que sofre agora uma retração muito mais rápida do que se previa no início da efusão da construção civil privada. Sendo que o custo Amapá na construção civil cresceu em 2,52% enquanto que no mesmo período o custo São Paulo por exemplo, ficou em 0,60%.

A mineração no estado do Amapá apresentou o maior índice de crescimento de todo o País este ano, ou seja, uma variação positiva de 484,6%, com a marca de US$ 22,8 milhões.  Sendo o crescimento nas exportações de minério de ferro, passando de US$ 4.676.399,00  am para os extraordinários US$ 11.143.461,00 am, um crescimento de mais de 102% nas vendas do produto amapaense, passando de uma participação de 25,24% na pauta das exportações do Amapá, considerando o acumulado do ano. E contribuindo com 12% da arrecadação estadual e se fossem fiscalizados e taxados como em outros estados esse percentual seria bem maior.
(Nota Post Script - Os dados "am", tratam-se da diferença em valores das exportações, e não do faturamento bruto das empresas mineradores, pois tal informação só é possível de divulgação após a divulgação pública do Balanço Anual das empresas, o que ainda não ocorreu. Assim com o preço estimado do minério de ferro para este dado foi usado como base o de US$ 135,54 referentes a 30/11/2011. Esta informação adicional deve-se ao fato de para alguns leitores terem entendido de maneira equivocada a leitura estatística.

O investimento estrangeiro também teve sua fatia na economia, mas nada comparado ao apogeu de 2000 onde os investimentos alcançaram os US$ 25 milhões. A agropecuária e o extrativismo nos sub-setores de grãos e fruticultura contribuíram com 3% na balança comercial e os derivados de madeira (cavacos) para extração de celulose entraram com 13%.

Como se vê, nada mais do que a construção civil que entrou com 292 postos de trabalho, teve tanto impacto quanto o do comércio em que tiveram uma paridade de valores. Distando da mineração que contribuiu com quase um terço a menos (87 postos).

Os demais postos de trabalho gerados a margem da informalidade estão entre as empresas de comércio de serviços, onde a grande massa está alocada em empresas de segurança patrimonial e serviços gerais, que dependem do poder público, mas não como forma de geração de emprego, mas por uma necessidade da terceirização dos serviços, pois esta demanda não aumentou nos últimos 5 anos.

Fico me perguntando quais ações de fomento aconteceram nos agronegócios, se o Governador só foi tomar conhecimento da realidade deste segmento, quando esteve recentemente no Mato Grosso onde a realidade lá é de crescimento e geração real de emprego, renda e divisas. Ou de fomento a construção civil, se as obras públicas empregaram menos que o setor privado. Ou se quer de algum fomento na indústria da mineração que apesar de contribuir com 12% da arrecadação fiscal do Estado, de vez em quando se tem que mediar algum conflito nas regiões de garimpo ou coisa pior.

Alegar a paternidade sobre um curso natural do mercado, mesmo com a omissão por parte do poder público e a agonia do setor varejista, é ser demais cômico ou até mesmo, achar que a maioria da população não consegue ler números que por muitas vezes, como estes que eu citei neste artigo, saíram dos anúncios do próprio governo. Que talvez precise ir ao programa do Ratinho por dois motivos: Um para o teste de DNA o outro pela comicidade do caso...


FONTES:
IDV - INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO DO VAREJO
CAGED - MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO
AGENCIA AMAPÁ DE NOTÍCIAS
MME - MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA
MDIC - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR

Um comentário:

  1. Charles! É Miguel Gil! Acho que tenho um nome para ti. O nome é Jacques Derrida, pai do "desconstrucionsimo". Brilhante a desconstrução do discurso do GEA sobre o crescimento da oferta de emprego no Amapá.
    Essa apropriação do discurso de outrem, em literatura, é chamada de plágio - não sei como se chamaria no caso do GEA; talvez mentira ou fantasia!
    O texto está bem concatenado, atual e, o mais importante, coerente com os números e com as realidades política e econômica do Amapá.
    Uma observação, um ministro da economia brasileira - não lembro o nome do rapaz, disse que os números são como biquine, pois mostram tudo, menos o principal! Ou seja, os números sempre precisam de uma contextualização histórica, coisa que faltou na narrativa do GEA, mas esteve presente na sua.
    Abraço e até a próxima.

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